Quando nos recordarmos de Mário Soares, vamos recordar-nos de quê? Há políticos de que só nos recordamos dos seus melhores momentos, outros de que só lembramos os seus grandes erros.
1. Quando nos recordarmos de Mário Soares, vamos recordar-nos de quê? Há políticos de que só nos recordamos dos seus melhores momentos, outros de que só lembramos os seus grandes erros.
Um caso paradigmático do primeiro grupo é Winston Churchill. Raramente recordamos a trágica determinação com que planeou o desembarque em Gallipoli, durante a I Guerra Mundial, um desastre militar que o levaria a renunciar ao lugar de Primeiro Lorde do Almirantado (uma espécie ministro da Marinha de guerra) ou o facto de não ter compreendido, depois da II Guerra, que o Reino Unido não podia manter o seu império. Em vez disso, ele passou à História, com “H” grande, como o grande líder da resistência ao totalitarismo nazi e como um dos primeiros a denunciar com clareza o que Estaline estava a fazer na Europa de Leste no pós-guerra. Ele é o primeiro-ministro do “sangue, suor e lágrimas” e alguém que, nesses anos, tinha uma absoluta claridade sobre o que era decisivo fazer para vencer a guerra (conseguir que os Estados Unidos abandonassem o seu isolacionismo) e que por isso chegou a ordenar operações militares destinadas ao fracasso e que custaram muitas vidas humanas (Max Hastings descreve primorosamente esses tempos em Os Melhores Anos).
