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O lado do Brexit quer riscar décadas de paz e prosperidade reais para atingir um futuro cheio de estadistas racionais implausíveis/inverosímeis

Abro uma pasta empoeirada e olho para os meus artigos amarelecidos do Spectator da Polónia, Alemanha e Rússia nos dramáticos anos 1980. E cá está um de Bruxelas em 1986 a sugerir que a Grã-Bretanha estava na procura da defifinação do seu papel na Comunidade Europeia. Ha ha. Nessa altura, Charles Moore era o editor da revista e eu o editor internacional. Embora ele partilhasse a minha paixão pela libertação da Europa de Leste, à medida que nos tornávamos cada vez mais insatisfeitos com a Comunidade Europeia ocidental, ele deixou-me argumentar em sua defesa. Agora, 30 anos depois, o Charles e eu posicionamo-nos em lados diferentes de um argumento nacional histórico.

Isto contribui para uma inversão de papéis curiosa. Sou um liberal (“l” minúsculo) de longa data, mas o meu argumento para a permanência na UE é fundamentalmente conservador (“c” minúsculo). Baseia-se numa visão pessimista da natureza humana, em geral, e da Europa, em particular.

Pelo contrário, aqueles que — como o Charles — querem a saída da UE, argumentam a partir de uma visão otimista de um futuro alternativo, no qual o interesse próprio racional faz com que o resto da Europa, e o resto do mundo, ofereça condições favoráveis a uma Grã-Bretanha independente, dinâmica e rejuvenescida. É claro que a UE nos dará acesso fácil ao mercado único! Eles devem querer exportar para nós os seus BMWs. É claro que os EUA e a China farão acordos de livre comércio com a Grã-Bretanha como têm com a UE! Esta forma de pensar, profundamente não-Burkeana, baseada em afirmações não testáveis sobre um futuro no qual todos se comportam racionalmente, é mais frequente na esquerda. Os apoiantes da saída viram o futuro, e ele funciona.

Há semanas que tenho vindo a lutar com a decisão mais difícil da minha vida política. Mas tomar decisões difíceis é aquilo para o qual os políticos são pagos. Ninguém é forçado a candidatar-se ao Parlamento, ninguém é obrigado a tornar-se ministro.

Ao assumir esses papéis, que são grandes privilégios, também se assumem grandes responsabilidades. Fui encorajado a candidatar-me ao Parlamento por David Cameron, e ele deu-me a oportunidade de servir naquilo que eu acredito ser um grande Governo reformador. Eu acho que ele é um excelente primeiro-ministro. Só existe, tanto quanto posso ver, um único assunto importante sobre o qual discordámos.

E esse é o futuro do Reino Unido na União Europeia.

É doloroso para mim ter de discordar do primeiro-ministro sobre qualquer assunto. O meu instinto é apoiá-lo nos bons e nos maus momentos.

A pessoa humana «é, deve sempre ser e permanecer, o sujeito, o fundamento e o fim da vida social»; portanto, da sociedade civil e da sociedade política, ou Estado.

«A comunidade superior deve intervir apenas na medida do necessário […]. O princípio da subsidiariedade deve ser entendido como princípio estrutural global». […] Nas palavras da doutrina social católica: “Tal como não se deve privar o indivíduo daquilo que pode produzir pela sua iniciativa própria a com as suas próprias forças, atribuindo-o à actividade da sociedade, do mesmo modo é injusto que a comunidade superior e mais ampla atribua a si própria aquilo que as comunidades inferiores e mais pequenas podem produzir e levar a bom termo; isto é altamente prejudicial e ao mesmo tem perturba a ordem social. Qualquer actividade social é … subsidiária; deve prestar auxílio aos membros do corpo social, mas nunca destruí-los ou absorvê-los” (Encíclica Quadragesimo anno, 1931, nº 79)».

Reinhold Zippelius (Teoria Geral do Estado, 3ª ed., pp. 160-161)

Na história do pensamento filosófico e teológico do Ocidente, ninguém levou mais longe a reflexão sobre a ética humana da vida social e política do que a longuíssima plêiade dos teólogos católicos. Ensina-se assim, num dos mais recentes tratados de referência: «A teologia moral é a ciência que trata dos actos humanos em ordem ao seu fim sobrenatural. Se a questão da moral do comportamento humano for posta sem uma referência transcendental, podemos omitir o fim sobrenatural, mas não podemos omitir o fim, a questão do fim. Se os actos humanos não são aferidos relativamente a um fim, não podem ser avaliados; e se o fim não for o bem, o valor, a valoração pode ser por exemplo técnica (capacidade de obter um resultado dado); mas não pode ser uma valoração moral, ética. Quem não postula que os actos humanos se ordenam a bens, a fins que valem por si e não apenas porque o sujeito lhes dá valor ou preferência, não admite sequer a ciência da moral»1. Toda a questão da justiça e do direito entra aqui, e fora daqui não é possível pensar racionalmente nem o sentido da vida pessoal nem a ordem da vida social.

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