Escaparate - N.º 80
- Categoria: 80
Portfólio - Eventos IEP
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Obituário - João Salgueiro
- Categoria: 80
Conselho de Administração, Fundação Calouste Gulbenkian; Conselho Editorial, Nova Cidadania
Era o pessimismo da razão com o otimismo da ação. Foi das pessoas mais inteligentes e fascinantes que conheci.
Deixarei de encontrar nas manhãs de sábado o meu vizinho João, para dois dedos de conversa sobre os acontecimentos do momento. E tomo consciência dessa perda irremediável, que já sinto no fundo de mim. Quando a Maria Idalina ainda estava connosco havia entusiasmo. Depois, as marcas profundas da ausência foram-se acentuando rapidamente. Mas a argúcia, a inteligência e a sabedoria de João eram imperdíveis e são inesquecíveis. Desde que o conheci, há cinquenta anos, foi sempre uma constante referência. A exigência e o rigor eram confundidos por alguns com pessimismo, mas, na minha experiência, foi sempre útil essa firme capacidade crítica. Era o pessimismo da razão com o otimismo da ação, como nos ensinavam os clássicos. Foi das pessoas mais inteligentes e fascinantes que conheci. Muitos acusavam-no de ter hesitações, mas quem melhor o conhecia, sabia que essa característica era sinal de uma capacidade única para ver constantemente os diferentes lados dos problemas. Nos dez anos em que presidi à SEDES, graças também ao nosso querido e saudoso amigo Fernando Melo Antunes, contei com o seu apoio e conselho permanentes. Tinha sempre tempo não só para responder ao que se lhe pedia, mas também para dar ideias e propor novas iniciativas, considerando a luta contra a mediocridade e o favor do bem comum. Se não houvesse constante consciência crítica o cuidado do serviço público seria sempre incompleto.
Obituário - José Manuel Galvão Teles
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Professor Catedrático e antigo Reitor (2000-2012) da Universidade Católica Portuguesa. Membro do Conselho Editorial de Nova Cidadania
Morreu José Manuel Galvão Teles, distinto advogado, membro do Partido Socialista, de que foi dirigente, e colaborador do Instituto de Estudos Políticos, fazendo parte do seu Conselho Estratégico.
Dirigente da acção católica
José Manuel Galvão Teles recebeu formação católica e foi militante e dirigente da Acção Católica Portuguesa, tendo-se notabilizado na oposição dos católicos progressistas ao regime de Salazar e de Marcelo Caetano, nos seus últimos dez anos.
O primeiro gesto político de que terá sido protagonista, como fazendo parte da oposição católica, terá sido o Manifesto dos 101 Católicos, a quando da realização das eleições para a Assembleia Nacional em 1965, de que foi subscritor. Em carta aberta, esses 101 católicos exprimiam o seu apoio ao manifesto da Oposição Democrática de 15 de Outubro de 1965, e à exposição que ela enviara ao Presidente da República.
No ano seguinte, José Manuel Galvão Teles assumia responsabilidades cimeiras entre os leigos da Acção Católica, ao tornar-se membro da Junta Central, quando ela, em 1966, passou a ser dirigida por um leigo, no caso o Eng. Sidónio Paes, que o convidou a fazer parte dela. Nessa qualidade, participou na audiência concedida pelo Núncio Apostólico a uma representação de dirigentes católicos, a quem manifestaram a preocupação pelo aproveitamento político pelo regime da visita do Papa Paulo VI a Fátima em 1967. De igual modo, foi como dirigente da Acção Católica que entregou a Mons. Capovilla – que acompanhava Paulo VI na sua vinda a Fátima - uma exposição, assinada também por outros dirigentes, para ser entregue ao Papa, informando-o da situação existente em Portugal, considerada contrária aos ensinamentos da Igreja.
Homenagem - O pedagogo da cultura popular
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Conselho de Administração, Fundação Calouste Gulbenkian; Conselho Editorial, Nova Cidadania
Celebra-se o centenário de um poeta e homem de teatro, que influenciou decisivamente muitas gerações de jovens nos anos cinquenta e sessenta.
António Manuel Couto Viana (1923-2010) foi, antes de tudo, um pedagogo da cultura popular portuguesa. Pode dizer-se que foi esse seu papel de ativo educador através da leitura e do teatro que deixou uma marca indelével. Filho de um português e de mãe aragonesa, cultivou sempre as suas raízes galaico portuguesas e minhotas. Poeta, dramaturgo, ensaísta, memorialista e tradutor, fez os seus estudos no seu Minho e em Lisboa. Desde sempre foi um entusiasta do teatro, como a arte que melhor permite ligar a criatividade popular e a necessidade da cultura, tendo recebido de seu avô, com suas irmãs, em herança o Teatro Sá de Miranda de Braga. Cedo começou a colaborar no Teatro Estúdio do Salitre, como ator, cenógrafo e encenador (1948-1950), sendo ainda um dos animadores do Teatro de Ensaio do Monumental (1952), bem como diretor do Teatro do Gerifalto (1956-1960) – onde também estiveram Cecília Guimarães, Henriqueta Maya, Irene Cruz, Rui Mendes e Morais e Castro. Participou na Companhia Nacional de Teatro – Teatro da Trindade (1961-1965). Como ator, encenador e mestre da arte de dizer e de representar, encenou na televisão portuguesa (RTP) espetáculos de teatro e animou conversas e programas, com grande repercussão entre o público de todas as idades, mas especialmente entre os jovens, atraindo uma nova geração de atores e artistas para a arte de Talma. Lecionou no Liceu D. Leonor e foi membro do Conselho de Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian. Estreou-se na escrita em 1948 com o livro de poemas O Avestruz Lírico, muito bem recebido pela crítica. Foi autor de mais de uma centena de obras escritas. De 1950 a 1954, dirigiu com David Mourão-Ferreira e Luiz de Macedo as folhas de poesia Távola Redonda, e em 1956-1957 a revista de cultura Graal, participando na revista Tempo Presente em 1959-1961. A sua obra poética procurou reabilitar as tradições líricas populares e um certo culto do passado e da paisagem. Além da poesia e do teatro, dedicou-se à literatura infantil, a partir dos principais autores europeus e dos romanceiros portugueses antigos, estudando-a em ensaios, escrevendo e traduzindo livros destinados aos mais jovens. Dirigiu o Camarada (1949-1951). Uma boa parte da sua atividade teatral como ator, encenador e autor dirigiu-se também aos jovens e às crianças, o que se relaciona com a sua obra poética onde perpassam marcas dos temas dos contos tradicionais. A referência ao Gerifalto, que marcou o mais importante grupo que animou, tem a ver com a simbologia de uma ave semelhante ao falcão, que representava a altivez e a valentia. Couto Viana está representado nas principais antologias de poesia portuguesa, e os seus poemas foram traduzidos para castelhano por Angel Crespo e para inglês por Joan R. Longland. Foi em 1960 premiado com o Prémio de Poesia Luso-Galaica Valle-Inclan, além de um conjunto dos principais galardões relativos à poesia e ao conto.
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