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A plena afirmação da dignidade humana exige liberdade de escolher. Sem liberdade de escolha não tem sentido falar-se em cidadania, nem em construção e consolidação de uma sociedade onde os direitos fundamentais sejam garantidos a todos os cidadãos sem excepção.

Negar a capacidade de escolha às pessoas é sujeitá las à condição de servos de quem escolhe, quer seja a aristocracia (ou as suas metamorfoses mais modernas, a tecnocracia e a “vontade de metade da população mais um”), quer seja um qualquer partido ou grupo vanguardista, considerando se iluminado para saber o que é melhor para cada pessoa e, portanto, para a sociedade.

Por isso, a liberdade de escolha das pessoas só pode ser questionada quando põe em causa a própria liberdade ou a liberdade de outros.

Nos primeiros dias de Novembro, morreu nos Estados Unidos, onde vivia há longos anos, René Girard, um dos pensadores contemporâneos mais estimulantes, que dedicou parte importante da sua vida intelectual à análise da violência e da sua superação nas sociedades humanas.

A partir da noção de «violência mimética», da leitura da Bíblia e da influência do cristianismo, o autor de «Le Bouc Émissaire» (Grasset, 1982) procurou uma explicação para evolução divergente entre as religiões arcaicas e a judaico-cristã no tocante aos mitos violentos originais. Num tempo em que o tema da escalada da violência está na ordem do dia, a obra de Girard ganha um sentido muito especial, permitindo uma reflexão aprofundada sobre o panorama que nos preocupa e sobre as respostas a encontrar num contexto de tão grande complexidade.

Vindo da Filologia e da Literatura, Girard exerceu o seu magistério nos Estados Unidos, primeiro como professor de literatura francesa, a partir de 1947, depois no estudo das relações entre a literatura e a antropologia religiosa na Universidade John Hopkins, em Baltimore (1957) e por fim em Stanford, a partir de 1980. Duas obras irão abrir caminho ao interesse que logo começa a suscitar a sua reflexão, apesar das desconfianças de quem não lhe reconhecia competência antropológica: «Mensonge Romantique et Verité Romanesque» (Grasset, 1961) e «La Violence et le Sacré» (id., 1972). Natural de Avinhão, filho de um conservador da Biblioteca e do Museu do Palácio Papal, radical-socialista e anticlerical, e de uma católica conservadora dada à leitura, o jovem começou por estudar as referências literárias à vaidade em Stendhal e ao snobismo em Flaubert e Proust, procurando reequacionar o destino do desejo humano, através de diversas obras literárias, com destaque ainda para Cervantes e Dostoievski. Tratava-se de tentar compreender o funcionamento das nossas sociedades, a partir do desenvolvimento humano e da sua lógica profundamente patológica. Afinal, o homem é desejo, mas não desejo de um objeto pela sua função ou utilidade, sim um desejo daquilo que o outro possui. A relação envolve, por isso, três elementos: eu, o outro e o objeto. Daí a rivalidade que leva ao antagonismo e finalmente à violência. Por isso, Girard salienta que nas condições sociais do tempo presente, há uma divergência fundamental aos olhos de hoje, entre as religiões arcaicas e a judaico-cristã. Onde as religiões arcaicas criavam um bode expiatório, que encarnava o mal, cujo sacrifício permitiria a reconciliação das massas, o cristianismo proclama a inocência da vítima – Jesus Cristo. Aqui está a originalidade da reflexão do pensador que procurou uma saída para o enigma da conflitualidade humana.

A antologia «Une Vie Écrite» de Eduardo Lourenço acaba de ser publicada em Paris pela Gallimard, com uma edição estabelecida sob a direção de Luísa Braz de Oliveira.

uma justa iniciativa, dedicada pelo autor a sua mulher Annie, lembrando a função de exímia tradutora, como, aliás, fica demonstrado numa parte muito significativa dos textos que constituem este volume. Pode, pois, dizer-se que estamos perante uma obra escrita a duo – beneficiando os leitores das ideias do pensador e ensaísta e da fidelíssima tradução para língua francesa por uma notável hispanista, que muito bem conhecia o pensamento de seu marido e a riqueza da cultura portuguesa. Por isso, devemos deixar claro que a apresentação ao leitor francês deste notável conjunto de textos pressupõe o reconhecimento da importância da complementaridade entre Eduardo e Annie, o ensaísta e a especialista em culturas ibéricas – culturas em cujo âmbito a obra do autor de «O Labirinto da Saudade» se integra como uma das mais ricas e fecundas. O critério geral assumido por Luísa Braz de Oliveira revela-se extremamente correto, centrando-se em dois temas: a Europa e a Poesia – que permitem situar o ensaísta não só na tendência de abertura e cosmopolitismo em que é seguidor da Geração de Setenta com a atualização do modernismo de «Orpheu», mas também na compreensão, a um tempo heterodoxa e atenta às mais inesperadas particularidades de uma identidade cultural feita de inúmeros elementos, tantas vezes contraditórios... Dir-se-ia, assim, que, como incansável interrogador de mitos, Eduardo Lourenço pôde perceber o lado oculto das culturas da língua portuguesa. Basta lembrarmo-nos dos equívocos ainda presentes quando publicou no início dos anos 1970 «Pessoa Revisitado», que contrastam com a presença atual do poeta, que já não pode ser identificado com uma leitura mais ou menos unilateral da «Mensagem» ou psicanalítica dos heterónimos... E qual foi a «trouvaille»? «Bastou ler o que está nos poemas para descobrir a séria “comédia” heteronímica, quer dizer a intrínseca intertextualidade».

Muito tem sido dito sobre a Grã-Bretanha na Europa, particularmente nos últimos dois anos. Uma parte tem sido ponderada e precisa. A maior parte não tem.

Nos próximos 15 minutos, mais ou menos, quero responder à pergunta colocada por este debate. Quero propor-vos uma ideia do que uma Europa reformada – com o Reino Unido no seu seio – pode parecer. Utilizarei as minhas palavras, mas também contarei com palavras de outros, principalmente do Primeiro-Ministro David Cameron e do nosso Ministro das Finanças, George Osborne. Porque, ao contrário do que possam ter lido, nós temos uma visão de como se apresenta a Grã-Bretanha na Europa. É uma visão positiva, que visa proporcionar benefícios. O Primeiro-Ministro, e outros, foram identificando exatamente isso nos últimos meses – por exemplo, quando David Cameron falou na Chatham House sobre as reformas específicas que o Reino Unido está à procura e na carta que ele enviou subsequentemente ao Presidente do Conselho Europeu.

Quero começar por olhar para o passado, para a história da Grã-Bretanha na Europa. Virei em seguida para o presente, para a agenda de reforma do Reino Unido, e concluirei levando-vos ao futuro 10 anos.

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