• +351 217 214 129
  • This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.

Academia das Ciências Houve uma Idade de Ouro na Nossa Cultura?

Não pode haver uma resposta unívoca. Mas, mais de um século passado, e vendo- se o longo prazo, percebemos que essa Geração singular e influente, teve uma genial intuição – a de que urgiria apostar na abertura, na diversidade, do cosmopolitismo.

Sem negar o valor de alguns dos clássicos portugueses, devo dizer que, em meu entender, a literatura portuguesa, que merece ler-se, data do século passado, do período romântico, da época de Almeida Garrett e de Herculano. E creio que a sua verdadeira idade de ouro é a atual

Assim se exprime Unamuno sobre a literatura portuguesa, em texto datado de Salamanca, de março de 1907. De que fala o pensador? Terá ele razão? Naturalmente, das repercussões poderosas na geração de 1870, não es- condendo profunda admiração pelos seus protagonistas – Antero de Quental, Oliveira Martins, Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro e Ramalho Ortigão. Os três primeiros já não faziam parte do número dos vivos, mas os dois últimos ainda estavam presentes. E o mestre salmantino invoca uma célebre con- versa com Junqueiro: «O Cristo espanhol, dizia-me uma vez Guerra Junqueiro, está sempre no seu papel trágico: nunca baixa da cruz, onde, cadavérico, estende os seus braços e alarga as suas pernas cobertas de sangue; o Cristo português anda por costas e prados e montanhas, com a gente do povo, diverte-se com eles, merenda, e de vez em quando por pouco, para desempenhar o seu papel, regressa à cruz. (...) Aqui há o culto da morte; só que em vez de ser trágico, como em Espanha, é elegíaco e triste»... E ao dizer isto, o mestre sente encantamento. É verdade que não deixa de reconhecer, por comparação, as virtudes da literatura catalã, mas nas letras portuguesas vê um sinal da originalidade e o selo de uma identidade viva. E considera João de Deus o mais português dos nossos líricos do momento, corroborando Junqueiro esta consideração sentida. Mas Antero de Quental é outra coisa – comparável aos maiores na filosofia e na sensibilidade poética. «Em Espanha não temos nada que se assemelhe. Campoamor é a seu lado um falsificador do ceticismo. Quental foi uma das almas mais atormentadas pela sede de infinito e pela fome de eternidade. Há sonetos seus que viverão enquanto viva a memória das gentes, porque serão traduzidos, mais tarde ou mais cedo, em todas as línguas dos homens atormentados pelo olhar da esfinge». António Nobre apresenta o tom de um desespero resignado ou de resignação desesperada, que aparece noutros passos da literatura portuguesa.


1000 Characters left


Please publish modules in offcanvas position.