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A Balança da Europa


A Balança da Europa

A crise europeia é, assim, uma crise existencial, em que está em causa a própria continuidade da União Europeia e da NATO, os dois pilares da ordem liberal das democracias ocidentais.

Carlos Gaspar
A Balança da Europa
Alêtheia Editores, 2017

Sónia Ribeiro Sónia Ribeiro

Professora IEP-UCP

Em ‘A Balança da Europa’ Carlos Gaspar percorre as últimas sete décadas da história político-diplomática da Europa e do Mundo no contexto da relação de poderes entre as potências europeias e as duas superpotências que marcaram o sistema de relações internacionais desde a II Guerra Mundial, apresentando uma análise realista e precisa sobre as dificuldades que este equilíbrio europeu atravessa e de cujas respostas dependerá o futuro não só do processo da construção europeia mas no fim, da paz europeia através de um novo sistema de equilíbrio de poder com os novos atores internacionais com impacto no contexto europeu e no quadro das novas possibilidades de relação entre si.

Numa leitura fácil, mas com reconhecido rigor histórico e análise crítica, o autor oferece a quem lê esta obra uma visão integrada das relações entre as potências europeias e entre estas e as duas superpotências que emergem do final da Guerra, abrindo oportunidade a um conhecimento mais aprofundado sobre as razões políticas e estratégicas que marcaram o desenho da ordem internacional pós-45, definida em Yalta, e que se mantém pertinentes na redefinição do equilíbrio entre potencias europeias neste 1o quartel do séc. XXI.

Não se detém, assim, nesse momento seminal do processo de reconstrução europeia, acompanhando antes a sua evolução ao longo das décadas seguintes, e projetando os desafios que o processo enfrenta no presente.

Assim, esta obra apresenta uma leitura das relações entre os estados europeus no quadro multilateral criado e desenvolvido no final da II Guerra Mundial, mas também no seu diálogo com os restantes atores do sistema internacional, primeiro no contexto do modelo bipolar e das disputas entre as duas superpotências mundiais, projetadas também em países terceiros e espaços regionais onde os interesses da Europa também estão em causa, depois no contexto da redefinição do sistema mundial pós-Guerra Fria.

Neste contexto, assinala, a última década do século XX trouxe alterações fundamentais ao enquadramento de referência do projeto europeu, com a revolução russa e o fim do comunismo a tornarem possível reunificar as duas Alemanhas e as duas Europas e consolidar a ordem democrática. Tratou-se de uma alteração fundamental à balança europeia como equilibrada no pós-1945.

A reconstituição da balança europeia assenta a partir daqui num “equilíbrio de desequilíbrios” nas relações entre a Alemanha, a França e a Grã-Bretanha, institucionalizadas na NATO e na União Europeia, um sistema complexo e instável que será sucessivamente abalado pelas sucessivas crises que a Europa da União terá que gerir a partir sobretudo dos primeiros anos do século XXI – desde as indecisões internas no rescaldo da decisão do alargamento aos países do leste europeu, à crise do Euro, à dos refugiados, ao Brexit e ao impacto que a recomposição do sistema internacional pós-ilusão da paz ocidental da década de 1990 tem na reorganização da União, nomeadamente no que respeita às questões da segurança e defesa.

A Balança da EuropaA balança europeia está agora em busca de um novo modelo de sustentação que permita a manutenção de uma relação estratégica com o Reino Unido, reconfigurando o espaço europeu a partir da reconstrução de uma unidade fundamental entre a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha, sem a qual a Europa estará dividida e mais fraca perante os desafios externos.

A crise europeia é, assim, uma crise existencial, em que está em causa a própria continuidade da União Europeia e da NATO, os dois pilares da ordem liberal das democracias ocidentais, e garantes da paz na Europa. Para o autor é neste quadro, que permanece fundamental, que se podem concertar e harmonizar as políticas, mesmo com a perspetiva do ‘Brexit’.

A sobrevivência da União neste novo enquadramento de referência estratégico é um tema em discussão, e os avanços que a União tem feito, nomeadamente na área da segurança e defesa, nos últimos dois anos demonstram que os Estados Membros se aperceberam da urgência de definir novas respostas estratégicas que permitam ultrapassar os desafios que comporta.

De entre estes, talvez o principal passe, de novo, pelo início, e vá além das considerações estratégicas externas, sendo imperioso que considere também que a estabilidade interna – fundamental para que se possa encontrar a estabilidade no plano internacional – exige, considera o autor, o fim da ilusão de que é possível ultrapassar a natureza da UE como uma união de Estados soberanos para criar uma espécie de superestado europeu que contraria a própria natureza da UE, e a vontade dos seus cidadãos.

É esse espaço de participação, equilíbrio e estabilidade, essa balança europeia que se torna crucial manter para o futuro. Para o autor, isso apenas será possível se, como demonstra a história, “alguém estiver preparado para correr riscos para a manter”, ainda que tal implique “fazer sacrifícios para a manter”.


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