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Globalização em Português - Revoluções e continuidades africanas


Jorge Braga de Macedo

Jorge Braga de Macedo

Professor Catedrático Jubilado, Nova School of Business and Economics; Membro do Conselho Editorial Nova Cidadania

Em Nova Cidadania, nº 74, 65-6 aparecem títulos ilustrados e numerados: este 1 (#9) está entre os três mais longos, depois da edição bilingue Portugal: um estado de direito com oitocentos anos: Bula Manifestis Probatum, 1981 (#5) e Futuro e História da Lusofonia Global, 2008 (#6) - tendo Monocle (#8, 2012) o mais sucinto e cogente apelado a um “bocado de lusofilia” e o #3 anunciado Jorge Borges de Macedo Obras Escolhidas, em progresso. Ora se “globalização” e “global” sugerem o âmbito geográfico maior, “futuro e história” engloba mais do que “revoluções e continuidades africanas” 2 : a mensagem “combinemos lusofilia e silofobia em vez de nos resignarmos à silofilia com lusofobia” (GeP, p.305) dirige-se a todos os membros.

Terminadas as comemorações dos 150 anos do nascimento de Alfredo da Silva levadas a cabo pela Fundação Amélia de Mello, nome da filha única, o lançamento de GeP teve lugar em 7 de Setembro, no Salão Nobre da Academia que já acolhera o simpósio. Em 31 de Agosto, à boleia do Relatório Económico 2019-2020 do Centro de Estudos e Investigação Económica da Universidade Católica de Angola, dirigido pelo confrade Alves da Rocha, as atas já tinham sido apresentadas em Luanda 3 . A abertura pelo Presidente da Fundação e o debate com a Reitora da Universidade Católica Portuguesa, a CEO da Girl Move Academy em Nampula, organizadores e autores voltaram a ter como host Rosa Oliveira Pinto 4 . Numa homenagem do Centro de História da Faculdade de Letras que teve lugar na vizinha Biblioteca Nacional em 27 de Outubro, apresentei “Globalização, CPLP et al. org.” texto decorrente que apresentei esclarecendo “isto não é um título” com prosa do homenageado (citada na nota 2). Ainda assim, no país da sede a relevância das revoluções e continuidades é notória há 200 anos bem como no Brasil, onde nasceu o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, e nos cinco países africanos de língua oficial portuguesa. Timor-Leste, cuja longa luta pela independência da Indonésia como que redescobriu a pegada oriental do “novo reino”, complementa os membros africanos, metade dos quais em conflito desde os anos 1960 5 . Dito isto, continuidades não se autodefinem, acontecendo o contrário com revolução, o mais abusado termo astronómico. Posto que anti-colonial, a origem peninsular da lusofonia não interpela os quase 300 milhões que, no hemisfério sul, falam a língua do colonizador de antanho. E quantos não esqueceram que os lusitanos resistiram à colonização romana - até traírem o seu chefe 6 .

O propósito de só reconhecer o “português” como língua oficial pan-africana e de rejeitar a fonia “lusa” parece chocar com 20 anos de reuniões dos “Três Espaços Linguísticos”, criados em Paris, dos quais os “mutuamente inteligíveis” criaram em 1991 uma cumbre iberoamericana que inclui a península europeia 7 . Em 1989, por altura da queda do muro de Berlim, reuniam com os PALOP em São Luís do Maranhão para criar o IILP. Seguiu-se no início de 1994 a reunião ministerial em Brasília onde se iniciou uma “concertação permanente” que levou Lisboa (única capital onde existem embaixadas de todos os membros) a acolher a CPLP em 1996- Quanto ao IILP, foi sedeado em Cabo Verde de acordo com decisão tomada em São Tomé e Príncipe em 1999 e 2002 respectivamente (por coincidência ambos adjacentes ao continente).

Ao contrário de francofonia, que evoca a pátria da revolução 8 , lusofonia conota um poema épico. Ainda assim, em 2017, os “três espaços” juntaram-se ao Commonwealth of Nations criado em 1931 e as quatro dirigentes apelaram ao humanismo universal nos seus quatro idiomas (imagem 1). Este painel em Montreal do Forum Économique International des Amériques (FEIA) foi moderado pela sherpa da OCDE, organização internacional baseada em Paris então dirigida por um Globalização em Português - Revoluções e continuidades africanasImagem 1diplomata mexicano. Assim, a Euráfrica não deve afastar América de Ásia, como faz o mapa Dymaxion (imagem 2) mais completo do que o usado na capa de GeP tanto mais que a primeira viagem de circum-navegação há 500 anos, ibérica como poucas, não podia eclipsar tradições continentais nas Américas, África e Ásia. Quanto às sucessivas revoluções industriais iniciadas em Inglaterra há 250 anos, acentuaram a diversidade dos espaços linguístico do antigo Mare Nostrum europeu sem beliscar a durável sintonia atlântica de britânicos e portugueses 9 .

Globalização em Português - Revoluções e continuidades africanasImagem 2Antecipando o relato completa, resume-se o lançamento de GeP 10 . No discurso de abertura (5:38), Vasco de Mello enquadrou a implantação da CUF desde os anos 1920 com abastecimento de matéria-prima a partir da Guiné e a Sociedade Geral, empresa de transporte marítimo até à consultoria multidisciplinar da Profabril constituída em 1963 com crescimento exponencial em Angola, Moçambique e Marrocos até 1975. Isabel Capeloa Gil (24:37) evocou Lauren Berlant (1957-2021), que explicou a força e os limites da liberdade de expressão - como desconstruiu o sonho americano em Cruel Optimism, 2011 - (imagem 3). Apetece evocar Homi K. Babba, um especialista mundial do pós colonialismo, que advoga uma linguagem de direitos humanos “nova e emotiva” e “o uso da imaginação em tempos de crises políticas” 11 . Porém, mais relevante para os estudos de globalização será esta contribuir para ocupar o “espaço abissal do conhecimento sobre a diversidade dos fluxos que constituem os processos de globalização” na medida em que “o futuro é um facto cultural”. Comentando o discurso de encerramento do simpósio, entende Gil que Pedro Passos Coelho interpelou o futuro que passa “pelo repto à responsabilização individual dos cidadãos, pela separação dos interesses, na senda de um futuro que obvie omissões danosas para a construção de uma sociedade livre e confiante”. Quanto à CEO da Girl Move Academy (37:23, imagem 4), chama “intercâmbio efetivo de globalização virtuosa” ao estágio das “changemakers” nas maiores empresas portuguesas, porquanto a cultura e experiências que trazem supera a que levam, desmentindo que a globalização seja “palavra morta”! Aliás, aprecia o estudo mostrando como continuidades em Moçambique de 1900 a 2005 parecem ignorar as sucessivas revoluções (GeP, 169-202). Rocha, autor do estudo sobre Angola (1:05:30), fez referência à participação no simpósio do seu coautor Justino Pinto de Andrade, deputado à Assembleia Nacional pelo Bloco Democrático an- tes de aludir a uma presença portuguesa durante quase 500 anos, a qual criou “um conjunto de cumplicidades ainda hoje presentes no dia-a-dia dos cidadãos”. Mencionou posições e comportamentos de empresas brasileiras acusadas de prática de racismo nas relações laborais e salientou a globalização dependente, que perdura até hoje, sem base económica interna. Maria Romeiras (1:18:42) salientou o conhecimento mútuo que as colecções históricas e artísticas do IICT proporcionaram, tema do seu livro editado pela Câmara Municipal (imagem 5), em coautoria com Conceição Casanova Globalização em Português - Revoluções e continuidades africanasImagem 3(primeira autora do texto em GeP sobre IICT), com o título Lisboa Guardiã de Saber Tropical. O debate contou com intervenções de Isabel Castro Henriques (1:30:40), que focou a preservação e transmissão do saber tropical e “a questão museológica” (no que viria a ser aplaudida por Gil) e de Xavier de Figueiredo (1:37:15), que apelou para o “descomplexar” das relações entre Portugal e PALOP. O confrade Rui Vilela Mendes (1:39:40) interrogou-se sobre a ausência de academias científicas em Angola e Moçambique. Outro confrade, Carlos Lopes (1:45: 45) louvou-se no que dissera nessa manhã acerca da diferença entre “língua” e “expressão”, África “noire” ou “tropical” e “panafricano”, por ocasião do lançamento do seu novo livro na Biblioteca da NOVASBE (imagem 6).

A relevância das revoluções e continuidades é notória há 200 anos bem como no Brasil, onde nasceu o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, e nos cinco países africanos de língua oficial portuguesa

Por coincidência, à minha contribuição em Lisboa Guardiã que descreve a colaboração entre CPLP e IICT em 2004-15 seguiu-se o resumo de A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses, 1992 que Mendes Ferrão viria a resumir em Globalização em Português - Revoluções e continuidades africanasImagem 4As Plantas na Primeira Globalização, 2007, anos durante os quais coube a Portugal a primeira e terceira presidência europeia 12 . O chamado «Plano Marshall com África», lançado em 2017 durante a presidência alemã do G20, devia marcar a troika comunitária até à presidência francesa de 2022 (GeP, 20-24). Porém, não atendeu ao português para aproximar económica e cientificamente países da Europa, África e Américas e ajudar no seguimento das agendas G7/G20, cuja presidência passa da Itália à Indonésia. Dos últimos dados do FMI, que secretaria o G20, retira-se que a percentagem do PIB mundial entre G7 e os 7 maiores países emergentes (BRIC+Indonésia, México, Turquia) se mantém cerca de 60% do total em 1992-2021, mas os velhos ricos passam de 2/3 para 1/3 13 !

Globalização em Português - Revoluções e continuidades africanasImagem 5 Globalização em Português - Revoluções e continuidades africanasImagem 6

Notas

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