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Estoril Political Forum - Um futuro melhor para todos

Estoril Political Forum 2021

Isabel Capeloa Gil

Isabel Capeloa Gil

Reitora da Universidade Católica Portuguesa

Que este Fórum continue a brilhar como um farol de esperança para mais e mais perfeitas coligações dos que estão dispostos a agir.

TRADUÇÃO Jorge Miguel Teixeira

Isabel Capeloa GilCaros participantes do Estoril Political Forum, distintos convidados, É com gosto que vos dou as boas-vindas, mais uma vez, ao Estoril Political Forum e a este extraordinário local no Estoril. Que vos dou as boas-vindas em pessoa, aliás. Porque se pensarmos onde estamos, então é certo que o local inspirador onde este evento de alto nível do Instituto de Estudos Políticos da Católica se dá, o Hotel Palácio Estoril, que carregou eventos definidores na política do século XX (e XXI), não pode ser simplesmente ser substituido por um stream à distância. E como o tópico do Fórum deste ano é ‘’Estruturando uma nova aliança de democracias na ocasião do 80º aniversário da Carta Atlântica’, é importante sermos inspirados pelo contexto alargado da aliança e pensar, bem como praticar, as pequenas alianças da partilha académica, usando este evento para alargar e enriquecer as redes etléticas do mundo que são essenciais ao desenvolvimento do conhecimento e à prática da política. E as alianças permitem-nos considerar, projetar e dar forma a um futuro mais perfeito, especialmente face às adversidades. A OTAN e a UE nasceram a partir dos escombros do conflito e da dissensão, e permanecerão sempre incompletas, porque é essa a verdadeira natureza das alianças democráticas.

A filósofa americana Martha Nussbaum disse ilustremente que de modo a prosperarem, as democracias precisam de fomentar uma economia forte e uma cultura de negócios robusta, armadas com um forte establishment militar, mas que para que a democracia sobreviva, é preciso também cultivar a imaginação. É a capacidade de imaginar, argumenta Nussbaum – que aparece na arte, na literatura, no cinema e nas artes performativas – que mantém as democracias vivas e alerta. Esta capacidade imaginativa leva ao exercício do pensamento crítico e à reflexão que é crucial em permitir às democracias que lidem responsavelmente com os problemas do nosso mundo. Concluirei a minha breve reflexão convidando-vos a considerar precisamente o trabalho da imaginação na construção de futuros mais perfeitos. (Spoiler alert daqui adiante).

Ontem vi – algo desconcertada, devo dizer – o último filme de James Bond, 007 No Time to Die. O 25º filme da saga de Bond, No Time to Die é, como todos os outros filmes de Bond, um comentário sobre os nossos tempos. O enredo é sempre enquadrado num sentido de ameaça ao mundo iminente, salvo num último esforço pelas ações eficientes, embora pouco ortodoxas, do agente do MI6 James Bond. A história recorrente acaba com a queda do vilão ou da vilã e da sua rede – SPECTRE – e a reinstalação da ordem. O espetador é assegurado que no fim, Bond e consequentemente o MI6, permanecerão, significando que a democracia e o império da lei terão sempre sucesso face ao autoritarismo e a repressão. Pelo menos até agora. Bond tem-se tornado mais humano nos últimos filmes da saga e no No Time to Die, para salvar o seu segredo mais querido (uma filha), ele é envenenado pelo vilão – Safin – de tal modo que o veneno não o matará, mas matará qualquer pessoa em quem ele toque. Sem um futuro à vista – um futuro baseado na interação humana – ele sacrifica-se para salvar a humanidade. Bond morre! Com certeza haverá um outro 007, mas não Bond. E porque mata Hollywood Bond? Bem, talvez porque os nossos tempos não precisem de um herói bem vestido e pouco ortodoxo, que veste smoking e se dá com senhoras agentes glamorosas enquanto mata malfeitores com estilo. Um herói que despreza animais – lembrem-se do gato do vilão Blofeld – bebe em serviço, etc. Talvez a morte de Bond seja um sinal de uma era que se encontra em transformação e um momento de viragem. Imagina, de facto, um ponto de transição para as sociedades democráticas ocidentais. A saga também se adapta às mudanças nas necessidades da sociedade. Os espetadores já não procuram heróis solitários, mas querem soluções robustas e duradouras para um mundo muito frágil. E a democracia é isto, um regime que ouve diferentes vozes e favorece a igualdade perante a lei e a liberdade de escolha, procurando uma vida decente ao longo das várias divisões que qualquer sociedade implica, permitindo que os seus cidadãos possam imaginar um futuro melhor para todos. A minha esperança é que nas nossas diferentes funções, todos façamos a nossa parte e que este Fórum continue a brilhar como um farol de esperança para mais e mais perfeitas coligações dos que estão dispostos a agir.


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