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Mazelas e sequelas políticas do Coronavírus

Pedro Rosa Ferro

Pedro Rosa Ferro

Professor da AESE, Professor Convidado IEP-UCP

Agora, espera-se da crise da Covid-19 uma função catártica: o trauma, a tragédia desta praga seria uma ocasião de purificação, exorcismo e saneamento colectivos.

Como se abateu sobre vós um grande e súbito revês, o vosso espírito encontra-se demasiado oprimido para sustentar a vossa resolução. É que, perante o repentino, inesperado e fora de todas as previsões, o espírito fraqueja. E, pondo de parte tudo o resto, a peste foi, sem dúvida, uma emergência deste tipo.

Tucídides (História de Guerra do Peloponeso, Discurso de Péricles)

Em meados do século XIV, a Peste Negra devastou entre um quarto e metade da população europeia. Originada na Ásia Central ou Oriental, atingindo duramente a China, terá sido depois transportada para a Europa pelos mercadores genoveses, entre outros, por mar e terra, eventualmente através da antiga Rota da Seda. Agora, aqui e ali, surgem ensaios de paralelismo entre essa e a nossa relativamente benigna (pelo menos, até agora) pandemia. A Peste Negra terá surgido na China, tal como o nosso coronavírus. O seu alastramento foi propiciado pelo desenvolvimento do comércio entre continentes, tal como a transmissão da Covid-19 terá sido potenciada pela globalização e pela “nova rota da seda”. Na altura, aquela foi julgada por alguns como um castigo de Deus; agora, a nossa peste está ser considerada como uma vingança da natureza contra os nossos pecados ecológicos 1 (que exigiriam penitência e conversão). Alguns historiadores associam a convulsão económica, social, política e religiosa gerada pela Peste Negra à emergência do Renascimento. Agora, também muitos desejam que a nossa pandemia seja um ponto de viragem na história 2 , dê origem a uma nova renascença – a mais um “novo paradigma” – em que “nada será como dantes”, e que enterre para sempre a “idade das trevas” (expressão cunhada por Petrarca, suponho) do neoliberalismo... Agora, espera-se da crise da Covid-19 uma função catártica: o trauma, a tragédia desta praga seria uma ocasião de purificação, exorcismo e saneamento colectivos, em termos seculares, rumo a uma sociedade mais solidária, responsável, inclusiva, equitativa, tolerante, sustentável, saudável, etc.

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