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Nota de Abertura - Concorrência civilizada

João Carlos Espada

João Carlos Espada

Director do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa. Director de Nova Cidadania

Este número de Nova Cidadania é sobretudo dedicado à 26a edição do Estoril Political Forum, que decorreu de 25 a 27 de Junho no Hotel Palácio do Estoril, sob o título genérico de “Patriotismo, Cosmopolitismo e Democracia”.

Este título revela de certa forma o posicionamento global que estes encontros anuais vêm assumindo desde a sua estreia, no Convento da Arrábida, em 1993. Eles têm procurado ser um ponto de encontro e de diálogo civilizado entre sensibilidades diferentes — partilhando a defesa comum da democracia liberal e da aliança euro-americana — sobre os grandes temas dos Estudos Políticos e das Relações Internacionais. Este é também o compromisso fundamental da revista Nova Cidadania.

Ao longo destes últimos 25 anos, raras vezes a necessidade deste diálogo civilizado terá sido tão premente. Assistimos com preocupação à erosão do chamado “centro vital” nas democracias euro-americanas, com o correspondente declínio da civilidade do debate e da concorrência entre centro-direita e centro-esquerda. E assistimos com preocupação ao simultâneo crescimento de tribalismos rivais — entre populismos de sinal contrário, muitos deles anti-democráticos, outros simplesmente bizarros e de gosto duvidoso.

Todavia, esta infeliz polarização tende a ser descrita de forma enviesada em grande parte dos meios de comunicação social. Ela tende a ser atribuída sobretudo, quando não exclusivamente, ao chamado populismo da direita radical. Este populismo existe sem qualquer dúvida, e deve ser combatido sem hesitações. Mas não poderá ser derrotado se o populismo rival — o da esquerda radical — for ignorado. E, pior ainda, se algumas posições da esquerda radical começarem a ser aceites como normais pelo “centro vital” das democracias liberais.

Um destes conceitos da esquerda radical que tem vindo a ser aceite como normal é a hostilidade contra o sentimento nacional e a sua precipitada identificação com o nacionalismo agressivo e xenófobo. Esta hostilidade e esta identificação são totalmente contrários às tradições da direita e da esquerda democráticas e como tal devem ser denunciadas.

Um aspecto importante daquela hostilidade é a condenação de qualquer proposta de política de controlo da imigração como sendo contrária à democracia e reveladora de xenofobia. Trata-se de um erro fatal. A oposição à imigração descontrolada não é sinónimo de oposição a toda e qualquer imigração — um ponto que foi sublinhado por José Manuel Durão Barroso, precisamente neste Esto- ril Political Forum (infelizmente não dispomos da versão escrita da sua excelente intervenção).

Por outras palavras, é urgente re-descobrir a tradição de um patriotismo liberal e democrático — aquilo que William Galston chamou de “patriotismo razoável” na sua excelente Palestra Dahrendorf no Estoril Political Forum, que o leitor poderá ler nesta edição. Por outras palavras ainda, é possível reconciliar “patriotismo, cosmopolitismo e democracia”.

Mas esta reconciliação e aquela re-descoberta só serão possíveis se for restaurada a civilidade do debate, e da necessária concorrência, entre centro-direita e centro-esquerda nas democracias liberais. Fazemos votos de que o mais recente Estoril Political Forum e a presente edição de Nova Cidadania possam contribuir para a restauração dessa concorrência civilizada.


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