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Não pode haver uma resposta unívoca. Mas, mais de um século passado, e vendo- se o longo prazo, percebemos que essa Geração singular e influente, teve uma genial intuição – a de que urgiria apostar na abertura, na diversidade, do cosmopolitismo.

Sem negar o valor de alguns dos clássicos portugueses, devo dizer que, em meu entender, a literatura portuguesa, que merece ler-se, data do século passado, do período romântico, da época de Almeida Garrett e de Herculano. E creio que a sua verdadeira idade de ouro é a atual

Assim se exprime Unamuno sobre a literatura portuguesa, em texto datado de Salamanca, de março de 1907. De que fala o pensador? Terá ele razão? Naturalmente, das repercussões poderosas na geração de 1870, não es- condendo profunda admiração pelos seus protagonistas – Antero de Quental, Oliveira Martins, Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro e Ramalho Ortigão. Os três primeiros já não faziam parte do número dos vivos, mas os dois últimos ainda estavam presentes. E o mestre salmantino invoca uma célebre con- versa com Junqueiro: «O Cristo espanhol, dizia-me uma vez Guerra Junqueiro, está sempre no seu papel trágico: nunca baixa da cruz, onde, cadavérico, estende os seus braços e alarga as suas pernas cobertas de sangue; o Cristo português anda por costas e prados e montanhas, com a gente do povo, diverte-se com eles, merenda, e de vez em quando por pouco, para desempenhar o seu papel, regressa à cruz. (...) Aqui há o culto da morte; só que em vez de ser trágico, como em Espanha, é elegíaco e triste»... E ao dizer isto, o mestre sente encantamento. É verdade que não deixa de reconhecer, por comparação, as virtudes da literatura catalã, mas nas letras portuguesas vê um sinal da originalidade e o selo de uma identidade viva. E considera João de Deus o mais português dos nossos líricos do momento, corroborando Junqueiro esta consideração sentida. Mas Antero de Quental é outra coisa – comparável aos maiores na filosofia e na sensibilidade poética. «Em Espanha não temos nada que se assemelhe. Campoamor é a seu lado um falsificador do ceticismo. Quental foi uma das almas mais atormentadas pela sede de infinito e pela fome de eternidade. Há sonetos seus que viverão enquanto viva a memória das gentes, porque serão traduzidos, mais tarde ou mais cedo, em todas as línguas dos homens atormentados pelo olhar da esfinge». António Nobre apresenta o tom de um desespero resignado ou de resignação desesperada, que aparece noutros passos da literatura portuguesa.

Dois livros recentes revelam dois destinos possíveis para o Ocidente: o tédio e a submissão, por um lado; a honra e a resistência, por outro. A escolha cabe a cada um de nós.

Dois livros recentemente traduzidos entre nós merecem atenta reflexão. Eles exprimem dois entendimentos opostos, mas claramente coexistentes entre nós, da civilização ocidental e dos deveres opostos que esses entendimentos implicam. É difícil exagerar a importância do que está em causa.

O primeiro livro é a edição portuguesa de Submissão, do francês Michel Houellebecq. É um livro certamente corajoso (e muito bem traduzido), que retrata duramente a imaginária futura rendição da França (e, com ela, da Europa) ao fundamentalismo islâmico. O mais incrível, à primeira vista, é que essa rendição será efectuada por via eleitoral: todos os partidos ‘respeitáveis’ (do centro-direita à extrema-esquerda) decidem apoiar uma candidato islâmico para derrotar a candidatura da Frente Nacional. No fim da história, a França docemente aceita a islamização — a começar pela Universidade de Paris-Sorbonne, onde o narrador lecciona.

Mas isto é apenas o mais incrível, à primeira vista. O que é tão, ou ainda mais, incrível é o retrato que o autor descreve da França antes da conversão ao islamismo. A França ‘burguesa’ que o autor retrata é uma terra de tédio, de ausência de sentido, em que as únicas fontes de gratificação residem na gastronomia e no sexo avulso. É essa (imaginária) França sem sentido mais fundo, essa França à deriva, que o autor descreve como vítima voluntária da Submissão.

O próprio Churchill afirmou que não era ele que mudava, mas sim o contexto nacional ou internacional. E só os loucos não se adaptavam a circunstâncias diferentes.

O nosso tema de hoje, “Churchill e a Europa”, ganhou novamente destaque com os debates que surgiram – ou ressurgiram – na campanha que antecedeu o referendo do Brexit na Primavera do passado ano no Reino Unido. Como se sabe, os dois lados tentaram puxar Churchill para si, como numa espécie de jogo da corda. É possível defender-se que Churchill é como a Bíblia: na sua longa lista de declarações sobre vários assuntos, podem encontrar-se argumentos a favor e contra o mesmo ponto. O próprio Churchill afirmou que não era ele que mudava, mas sim o contexto nacional ou internacional. E só os loucos não se adaptavam a circunstâncias diferentes.

O paradoxo aqui é que, como veremos, nas décadas de 1950 e 1960, a sua mudança gradual culminou num afastamento da Grã-Bretanha em relação à Integração Europeia, numa altura em que, de facto, a reduzida posição mundial do país tornava cada vez sensato juntar-se ao Movimento Europeu. Mas, como o voto no Brexit demonstrou, os ditames da razão são frequentemente submetidos a sentimentos do coração neste tema. Segundo afirmou Jock Colville, seu fiel ajudante e amigo, em 1981, “havia uma contradição na visão de Churchill de unidade europeia.” 1

Todos são necessários a bordo, quer a remar para o mesmo lado, ou a aproveitar o vento de feição, para que o rumo vá de encontro às verdadeiras potencialidades que se aguardam.

Quando aceitei o convite para escrever este artigo, estava longe do tema acima citado, pois o desafio era homenagear, como também o estamos a fazer, os actuais velejadores presentes na mais prolongada prova desportiva mundial, a regata “Volvo Ocean Race”, a decorrer na sua13a edição à volta do mundo, nos mais inóspitos oceanos que cobrem o planeta terra. São estas hostis condições que António Fontes, Bernardo Freitas e Frederico de Mello ousam enfrentar. O passaporte para ficar na história da Prova e como heróis do Mar de Portugal.

O que faz (constitui) um líder? Quais as suas características? O que é a boa liderança? todos os relatos contidos na presente obra tentam responder a estas questões intemporais e centrais à vida nas comunidades humanas e, em especial, à sua vivência política.

F oi com surpresa – grata é verdade, mas surpresa na mesma – que recebi o convite para tecer uma breves palavras de apresentação sobre a obra Comandar no Mar que recentemente deu à estampa sob a chancela das Edições Revista de Marinha. Apesar do título e da editora parecerem indicar o contrário, a obra em questão só aparentemente é técnica e para um público restrito. De facto, os meus receios iniciais de não ser pessoa mais indicada para a tarefa solicitada foram-se dissipando à medida que ia lendo os 13 artigos testemunhais que no seu conjunto compõe este livro. Com cerca de 300 páginas, e como bem nota o autor do prefácio, Prof. João Carlos Espada, Comandar no Mar tem duas leituras: uma primeira, mais testemunhal, contida sobretudo na natureza documental dos vários episódios particulares sobre o comando no mar relatados na primeira pessoa pelos narradores-protagonistas. A diversidade de experiências de comando ligadas ao Mar – Marinha de Guerra, Marinha Mercante, Marinha de Pesca e Marinha de Turismo – é o primeiro elemento que salta aos olhos do leitor na medida em que confirma imediatamente a relevância central do próprio Mar na vida das comunidades humanas. A segunda leitura, mais profunda e reflexiva, é, como também destaca o prefaciador, sobre a função e o valor daquele que comanda, ou seja, sobre o carácter do Comandante. Nestas suas duas dimensões Comandar no Mar não é só uma obra informativa e rica, como, igualmente, muito pedagógica.

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