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É verdade que, ao cabo de mais de dois séculos de processos de abertura política, de conquista de direitos e de ampliação das liberdades, nunca houve, no mundo inteiro, tantos regimes democráticos; mas também é verdade que, descontado o negro período entre as duas guerras mundiais, nunca houve tanta insatisfação com essa mesma democracia.

A “era da incerteza” é o rótulo que melhor define o século XXI, sobretudo desde que a crise de há quase uma década globalizou problemas económicos e tensões políticas internacionais que se julgavam ultrapassados pelos progressos do capitalismo e da democracia, pelo menos naquela parte do mundo – o Ocidente – em que afortunadamente vivemos. É verdade que, ao cabo de mais de dois séculos de processos de abertura política, de conquista de direitos e de ampliação das liberdades, nunca houve, no mundo inteiro, tantos regimes democráticos; mas também é verdade que, descontado o negro período entre as duas guerras mundiais, nunca houve tanta insatisfação com essa mesma democracia. E por isso hoje se fala nos seus velhos e novos inimigos e ameaças, esquecendo muitas vezes as possibilidades de melhoria individual e coletiva que ela oferece e o quanto, afinal, a pior das democracias é ainda assim preferível a qualquer uma das suas alternativas mais ou menos utópicas e/ou ditatoriais.

Num mundo que é cada vez mais pós- -Europeu, é útil lembrar que a União Europeia ainda é um oásis de paz e desenvolvimento apetecível. E dentro da Península Ibérica, apesar da má fama que a divisão weberiana da Europa há muito empresta aos latinos e aos “do Sul”, existem dois países onde a democracia e o desenvolvimento são conquistas e realidades indiscutíveis. Apesar da crise financeira e económica e da maior instabilidade política em que Portugal e Espanha estão presentemente mergulhados, vivemos, portugueses e espanhóis, de forma livre e com mais abundância e mais segurança hoje do que muitas das nossas gerações anteriores: parafraseando Voltaire, a Ibéria não é o melhor dos mundos possíveis, mas é, comparando com o seu passado e com o presente de outros mundos, um mundo muito aceitável.

O termo liderança tem sido objecto de muitas definições, mas poderemos considerar, para efeitos de simplificação, apenas uma: “A liderança é a capacidade de um indivíduo para influenciar, motivar e habilitar outros a contribuírem para a eficácia e o sucesso das organizações de que são membros”.

Enquadramento Já passaram cerca de cinco décadas e meia sobre o momento em que, pela primeira vez, fui investido em funções de chefia e em que senti a forte preocupação sobre a forma como deveria actuar para ser bem aceite pelos meus subordinados e, simultaneamente, conseguir que eles executassem correctamente as tarefas que lhes ordenasse. Teria de procurar dar expressão prática ao que, no âmbito da arte, ou técnica de comando, aprendera durante o curso da Escola Naval, com realce para o que retinha da leitura de um pequeno livro que muito me havia marcado. Era, de facto, uma obra de reduzida dimensão, mas de grande conteúdo, estruturado de forma muito objectiva, que exigia muita complementaridade prática e que faz parte da colecção Ecclesia 1. Tratava, naturalmente, o tema da chefia, já que, nessa altura, a palavra liderança ainda não constava nos hábitos, nem nos dicionários da nossa língua.

A experiência que, passo a passo, fui adquirindo demonstrou-me que os ensinamentos recebidos nas escolas e as leituras de vários autores são importantes e enriquecedores, mas que devem ser, têm de ser, acompanhados de uma reflexão continuada, de uma profunda introspecção, capaz de ajudar a melhorar procedimentos e a adequá-los às variadas circunstâncias.

No meio, a democracia luta por espaço.

“Há um espectro que assombra a Europa”, grita uma manchete num recente número especial do Journal of Democracy (uma sóbria publicação editada pelo National Endowment for Democracy americano) que analisa a ascensão dos partidos políticos à esquerda e à direita do mainstream europeu. Os europeus ficam normalmente ou alarmados ou desconfiados com a preocupação americana com o destino da democracia, mas, desta vez, a opinião liberal em ambos os lados da “Lagoa” ecoa em uníssono: o populismo é uma ameaça à democracia.

A abordagem do Journal é mais variada e subtil que isso. É também um útil compêndio de todos os partidos, políticas e histórias que podem ser incluídas no vasto baú do populismo. Um artigo principal, de Takis S. Pappas, um teórico político grego residente na Hungria, lista 22 partidos diferentes a que ele cautelosamente chama “desafiadores da democracia liberal”. O autor divide-os em três categorias: antidemocratas, ativistas e populistas. (Todos são commumente denominados de populistas nos meios de comunicação europeus e americanos). Ele enumera, de uma forma muito útil (e para minha ligeira surpresa), que sete destes partidos ganharam poder em coligação, outros quatro sozinhos, e que todos menos os anti-democratas estão ou “isolados em oposição” ou “extintos” (o BNP).

1956 conduziu, não apenas a 1968 em Praga e 1980/81 em Varsóvia, mas também a 1974 em Lisboa e à evolução gradual para a democracia em Espanha no período pós-Franco - e a mudanças nas anteriores colónias destes países.

Tenho de começar por reconhecer que me foi lançado um verdadeiro desafio ao forçar uma ligação entre os temas da Revolução Húngara e do Brexit. Se eu fosse naturalmente desconfiado, iria suspeitar de que estavam a pôr-me à prova para ver se eu colocava em pé de igualdade ambos os acontecimentos como exemplos de nações na sua luta pela liberdade contra tiranias monstruosas. Não vou cair nessa armadilha. Se a Grã-Bretanha tivesse votado a favor da permanência no dia 23 de Junho, não teria sido recrutada para um Gulag, e embora a União Europeia tenha um défice democrático que a própria admite, não se trata de um império pernicioso segundo o modelo soviético. E, além disso, se os húngaros tivessem votado num referendo em 1956, todos sabemos que não teriam votado para permanecer no Pacto de Varsóvia e no Comecon.

E, na realidade, votaram mesmo. Duzentos húngaros votaram com os seus pés para irem para o Ocidente e cerca de trinta mil húngaros votaram a favor da liberdade com as suas vidas. E ainda poucos dias antes aqueles mártires tinham vislumbrado a visão tentadora da Hungria livre.

Revisitar o levantamento de Budapeste é para nós não apenas uma homenagem aos que caíram pela liberdade e pela independência da pátria húngara mas também uma afirmação de uma solidariedade com o povo húngaro.

O Instituto de Estudos Políticos aceitou o convite da Embaixada da Hungria para, conjuntamente, comemorar a revolução húngara de 1956. Revisitar o levantamento de Budapeste é para nós, não apenas uma homenagem aos que caíram pela liberdade e pela independência da pátria húngara e uma afirmação de uma solidariedade com o povo húngaro, a que nos unem laços históricos indestrutíveis, mas também uma reafirmação da importância da liberdade e da democracia no mundo de hoje, quando de vários lados surgem ameaças que as põem em causa. A evocação dos acontecimentos dramáticos do outono desse ano, e a análise histórica do seu impacto no mundo soviético e no mundo livre, ajudam-nos por certo a compreender melhor o longo curso para a liberdade e a democracia da Europa.

Os acontecimentos de 1956 na Hungria, que se sucederam aos da Polónia no mesmo ano, que foram preambulo dos acontecimentos de Praga em 1968, traduzem bem o drama vivido pela Europa com as duas guerras mundiais e com a guerra fria ao longo do século XX, e recordam-nos a importância do processo de construção da unidade europeia, e da paz duradoura que tem proporcionado aos povos da Europa.

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