João Lobo Antunes era um intelectual completo. Como cientista e médico teve o reconhecimento, enquanto verdadeiro mestre que foi. Como cidadão empenhou-se nas causas nobres da construção de uma sociedade melhor, capaz de compreender os limites e a imperfeição. Como ensaísta e homem de cultura deixa-nos uma obra única, centrada na procura serena, complexa e multifacetada da dignidade humana.
Numa palavra, faz-nos muita falta. Deixa um lugar praticamente impossível de substituir. O humanista pôs em diálogo efetivo a cultura e a ciência, salientando que a criatividade e a inovação correspondem a processos paralelos e semelhantes no intelectual, no filósofo, no artista e no cientista. Não esqueço o encontro com Fernando Gil, a ilustrar essa proximidade. E não compreenderemos as virtualidades da investigação científica nos dias de hoje se não a ligarmos à criatividade humana. Num tempo de crises e incertezas, não é demais salientar a importância crucial do ato inovador, que exige um diálogo efetivo entre cultura e ciência. Pode dizer-se que ao lermos a obra fecunda do ensaísta, descobrimos o homem na sua integridade – o que permite compreendemos melhor o fenómeno extraordinário da criação.
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