• +351 217 214 129
  • Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

Para mim, enquanto promotora, constituiu um momento retrospetivo. Agora a promover o curso de Ciência Política e Relações Internacionais na Instituição que me tinha sido apresentada exatamente no mesmo ambiente, foi uma experiência interessante e inspiradora. Fez-me perceber quais as razões que me fazem ter tanto orgulho da instituição da qual faço parte e que podem levar outros a sentir o mesmo.

E foi algo reveladora noutro aspeto: no desconhecimento do curso em si. Mais que muitos foram os alunos que não conheciam o curso, ou que tinham uma ideia errónea do mesmo. Após uma breve explicação do curso a maioria desses começavam a considerar o curso como “perfeito para si”.

Porque na realidade quando se pergunta: “O que é o curso de Ciência Política e Relações Internacionais e o que é que significa estudá-lo no IEP?”, ou pegando na questão mais perguntada na Futurália: “Mas para que é que isso serve?” a maioria não sabe a resposta. E no entanto devia, pois o curso toca no essencial da vida em sociedade: o indivíduo e o estado e o modo como estes se relacionam. Temas como estes não tocam apenas ao possível estudante mas a todos os cidadãos.

De ano para ano, o Instituto de Estudos Políticos abre as portas às gerações mais novas, dedicando-lhes um dia inteiro para lhes proporcionar uma aula aberta, mostrar quem são os, quem sabe, seus futuros Professores e colegas mais velhos e, acima de tudo, mostrar no que consiste a Licenciatura de Ciência Política e Relações Internacionais.

Mas mais que isso, a Cimeira das Democracias permite-nos demonstrar aos mais jovens o que podem vir a fazer se prosseguirem os estudos na área de CPRI: a fundamental ferramenta do diálogo, da negociação, a diplomacia.

Quando tinha a mesma idade que muitos dos jovens que participam na Cimeira, decidi que queria vir estudar no IEP: sabia que queria representar, quem sabe, Portugal no Estrangeiro. E difícil era para mim explicar aos meus pais no que consistia esta Licenciatura. Aliás, volta e meia, seja a falar com o taxista numa viagem de carro, a explicar a familiares ou a falar com amigos, tenho sempre que responder à mesma pergunta: «Mas o que é que a Menina estuda? Vai para o Circo que é o Parlamento em Portugal? O que é que esse curso lhe permite alcançar em termos de carreira?».

Intervenção de Abertura à entrega de diplomas.

Sejam-me permitidas breves palavras de agradecimento reconhecido ao nosso conferencista Alexis de Tocqueville deste ano, Sir Noel Malcolm, que acaba de nos proporcionar uma aula magistral sobre Thomas Hobbes e a história do pensamento político ocidental. Este é um tema caro à Universidade Católica, e em particular ao IEP, onde estudamos com atenção as ideias políticas e as suas consequências, e onde dedicamos grande atenção à história do pensamento político na civilização ocidental, a que nos orgulhamos de pertencer. Ao contrário das modas politicamente correctas hoje dominantes em tantas universidades e em boa parte da comunicação social, nós não pedimos desculpa por ser ocidentais. Nós não rescrevemos a história de acordo com caprichos momentâneos de activistas revolucionários ou contra-revolucionários. Orgulhamo-nos de pertencer a uma civilização fundada na liberdade e responsabilidade pessoal. Orgulhamo- -nos de que esta civilização tenha gradualmente crescido, desde há pelo menos 2500 anos, de uma perpétua conversação a várias vozes, fundada nos plurais pilares greco-romano, judaico e cristão. Como gostava de recordar Michael Oakeshott, é também uma conversação entre vozes do passado, vozes do presente e vozes do futuro. Em cada época, algumas destas vozes captam temporariamente mais atenção do que outras. Mas, no Ocidente, a nenhuma concedemos a supremacia absoluta. E, enquanto todas tiverem voz, as nossas sociedades permanecerão livres.

Continuando assim o texto publicado em Nova Cidadania 57, pp. 67-73

1 RAZÃO DE ORDEM

Este artigo é dedicado a Mariano Gago, prematuramente desaparecido em 12 de Abril de 2015. Reduz, adapta e corrige as seções 3 a 5 do Working Paper (WP) nº 595 da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, continuando assim o texto publicado em Nova Cidadania 57, pp. 67-73 (o qual reproduziu as seções 1 e 2 e anexos 1 e 2 do WP). Desde então, assisti a várias homenagens, do Grémio Literário, em 22 de Outubro de 2015, ao Pavilhão do Conhecimento, em 8 de Março de 2016, esta última dedicada às “Mulheres na Ciência”. Em 26 de Novembro, valendo-me de WP e NC, evoquei na Academia das Ciências de Lisboa (ACL) a memória do nosso comum amigo Jean-Pierre Contzen, “sábio global, militante europeu, combatente belga”, que falara no Grémio e devia falar no Pavilhão1. Das 24 transcrições traduzidas do estudo de Jorge Borges de Macedo incluído num volume apresentado por José V. de Pina Martins, intitulado Damião de Góis Humaniste Européen, Braga, 1982, p. 55-244) que coligi no anexo 3, a última serve de envio lírico na seção 5 do WP. Isto porque Macedo retira de Góis dois pontos essenciais para Gago. Primeiro, “é possível persistir em Portugal numa ideia que se julga justa, sem torneio nem mentira”. Segundo, porquanto “a pesquisa como instrumento do poder efetivo ou virtual não tem interesse”, a crítica interna a uma certa cultura exige uma pesquisa fundada sobre a convicção que a verdade existe e é ela que deve prevalecer.

Ao reproduzir nas páginas 71 e 72 de NC o retrato de Damião procurado por Mariano queria transformar as interações descritas nas seções 2, 3 e 4 do WP no “rio sempre a ir, espaço misterioso entre espaços desertos” do poeta. Fruto das relações que tive com ele e que ele tivera com meu pai, voltei assim a conversar com eles sobre ritos, mitos e redes escondidos nas políticas, com o rabo da política de fora.

Tendo sido pai há três anos, a preocupação que já tinha enquanto professor intensificou-se: como é que se educam crianças num século XXI que rapidamente se tornou tão diferente em tantas coisas desde o final do século XX, em que eu próprio fui educado?

Tornou-se já cliché elencar as possibilidades infinitas que hoje existem para se fazer quase tudo ou para se ter quase tudo sem qualquer custo. A vida tornou-se mais fácil, tudo é mais acessível, tudo é touch, mais user friendly. E ainda bem. Esta situação trouxe, no entanto, um desafio: as novidades de hoje exigem que se saiba lidar com elas, porque têm a capacidade de mexer profundamente com o estilo de vida – e mesmo com a cultura – em que foram criadas. São realmente revolucionárias, pois surgem com uma velocidade superior àquela com que nós as conseguimos integrar.

Ora, a presença inevitável da internet, a envolvência absorvente dos smartphones, a programação vertiginosa da netflix e a capacidade osmótica da publicidade, tudo são dados novos, e por isso novas são também as ideias e os valores, o dia-a-dia e os desafios que são transmitidos e apresentados aos filhos.

Se, por um lado, realizo que nas próximas páginas faço uma avaliação muito negativa acerca dos tempos actuais, ainda assim acredito firmemente que o mundo de hoje ainda é um lugar bom, com pessoas e coisas muito boas, e este facto dá-me a segurança de poder dizer que nele os meus filhos poderão ser muito felizes. Estou mesmo convicto de que, entre outras, há duas principais razões para poder dizer isto. Apresentá-las-ei no ponto 3.

Please publish modules in offcanvas position.