Ensaios - Para superar equívocos na relação entre Ética e Negócios
Professor IEP-UCP; Membro do Conselho Editorial, Nova Cidadania
Parte II
4. Oposição entre lucro empresarial e responsabilidades sociais?
É tempo de deixarmos o mundo de confusão entre negócios e negociatas e passarmos a um novo equívoco.12 Cada época tem os seus enganos e os convenientes ziguezagues a imitar. A chamada Responsabilidade Social das Empresas (RSE) é o último grito de uma moda feita de falsos contrastes: entre social e mercado, entre ética e negócios. É verdade que, bem entendida, a RSE não contrapõe a rentabilidade económica às preocupações sociais e ambientais. Mas quantos negócios e interesses não aspiram a esconder-se sob o manto diáfano do “social” e a uma lucrativa remissão de pecados? Quem não sente o entusiasmo de tantos mentores da RSE pelos subsídios do Estado e pelas doações de empresas em campanhas de marketing, solidariedade ou filantropia, onde se reclama uma percentagem certificadora da quota de “preocupação social”? E como é forte a pressão para a obtenção de uma espécie de licença para funcionar e como abundam advogados, explicadores e manuais de boas acções, onde o lucro é olhado de soslaio. Pena é que muitos destes supostos representantes do “social” tenham pouca ideia do que é uma empresa e de como se processa a criação de valor, e que tantos empresários não pressintam o perigo de usar a RSE como legitimação ideológica – a empresa “boa cidadã” – e como biombo para esconder a falta de ética. Será que não se dão conta que a consideração de todos os “stakeholders” como principais não só cria condições para uma crescente politização da vida empresarial como mina a verdadeira responsabilidade social que consiste na criação de valor, na potenciação da capacidade criadora das pessoas?
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