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Atlantic Conferences - Discurso de boas-vindas às Conferências do Atlântico

Pedro Coelho

Pedro Coelho

Presidente da Câmara Municipal de Câmara de Lobos

(27 de janeiro de 2023 Museu de Imprensa da Madeira – Câmara de Lobos)

Exmo. Senhor Presidente do Governo Regional da Madeira, Dr. Miguel Albuquerque; Exmo. Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Sr. José Manuel Rodrigues; Exmo. Senhor Embaixador do Reino Unido em Portugal, Christopher Sainty; Magnífica Reitora da Universidade Católica Portuguesa, Prof.ª Dra. Isabel Capeloa Gil; Exmo. Senhor Diretor do Instituto de Estudos Políticos, e estimado amigo, Professor Doutor João Carlos Espada; Exmo. Senhor Doutor José Manuel Durão Barroso; Exmos. Senhores Professores James Muller e Allen Packwood; Demais conferencistas convidados; Distintos convidados, Senhoras e Senhores,
Na qualidade de vosso co-anfitrião, permitam-me que, em nome de todos os câmara-lobenses, vos dê uma afetuosa e calorosa saudação de boas-vindas.

É com enorme prazer, privilégio e honra, que hoje partilho, com ilustres e respeitados democratas da nossa sociedade, provenientes de diferentes partes do mundo, este espaço emblemático onde tiveram início, há cerca de oito anos, as primeiras “Conferências de Democracia e Liberdade”, promovidas pela Câmara Municipal de Câmara de Lobos, e que tiveram na sua essência a passagem pela Madeira, em janeiro de 1950, do célebre estadista Winston Churchill que escolheu a baía de Câmara de Lobos para se dedicar a um dos seus hobbies - pintar.

Atlantic Conferences - Discurso de boas-vindas às Conferências do Atlântico

E hoje, porque estamos em Câmara de Lobos, a pergunta impõe-se: porquê em Câmara de Lobos, quando hospedado no Hotel Reids tinha, de uma das suas varandas, uma vista magnífica e um esplendoroso mar à sua frente?

Para responder a esta questão temos que citar Churchill que um dia disse, e passo a citar: “As cores são lindas de se ver e deliciosas de se espremer”.

Acredito que as cores do casario do Ilhéu, a nossa baía que “abraça” o mar, a azáfama dos nossos pescadores e as cores típicas dos barcos de madeira, eram a tela no local ideal.

Perestrelo imortalizou o momento, e quis também o povo câmara-lobense, por sua vontade, imortalizar e homenagear a sua passagem e pintura - hoje num dos edifícios constantes na tela, encontra-se um hotel com o seu nome.

Esta singular ligação serviu de mote para recordar, no quadro das comemorações do quinquagésimo aniversário da sua morte, a atuação política de Winston Churchill na preservação da Liberdade na Europa no Pós-Guerra, o que possibilitou o debate e discussão, que pôde contar com a dignificante reflexão e intervenção do Professor Doutor João Carlos Espada, sobre a importância do pensamento de Churchill no contexto de “ameaça” à tradição ocidental da Liberdade e do Pluralismo, e de resistência aos inimigos da sociedade aberta.

Trazer a democracia a este debate é fundamental, e estarmos aqui pode e deve ser visto como uma oportunidade que não podemos desperdiçar

Hoje, volvidos (quase) setenta e oito anos, desde o fim da segunda grande guerra, está novamente latente a “ameaça” à tradição ocidental de Liberdade, de Pluralismo e de resistência aos inimigos da sociedade que tanto inquietou Winston Churchill.

Minhas Senhoras e meus senhores,

São cada vez mais aqueles que ocupam um espaço designado como pertencendo ao “Lado errado da história”.

Digo isto, porque nos últimos tempos proliferaram ensaios de instituição de ditaduras absolutas ou de democracias iliberais, assentes em princípios que rotulam de traidores toda e qualquer oposição, que inquinam a independência do sistema judiciário, e que castram a liberdade de imprensa, princípios basilares da democracia.

O ressurgimento de movimentos de extrema-direita, de extrema-esquerda radical, bem como de populismos, na Europa e noutras latitudes planetárias, são uma perigosa ameaça à democracia liberal, tal como a conhecemos.

Na minha opinião, um dos maiores perigos à democracia e à ideia liberal de uma comunidade de povos, é a atual Rússia, que, de forma ilusória, quer impor um modelo pseudo-alternativo à democracia liberal, mas que na prática consubstancia, nada mais nada menos, que, uma prática política caraterizada por um grupo de oligarcas, que para esconder e consolidar a sua atividade de poder e de monopólio, usa e controla os diferentes meios de comunicação, e que, para prolongar o seu domínio por tempo indefinido, cria, uma infindável sequência de crises que fazem divergir e distrair todo um povo.

Face a este cenário negro, e apesar de estarmos mais unidos que nunca, a verdade é que os desafios que temos pela frente são diversos e complexos, pelo que trazer a democracia a este debate é fundamental, e estarmos aqui pode e deve ser visto como uma oportunidade que não podemos desperdiçar.

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Nestas Conferências do Atlântico, tenho a esperança de que seja possível revisitar o significado do honroso compromisso de Winston Churchill com a tradição ocidental e europeia de liberdade, sob a lei, e espero que seja possível entender melhor o seu decisivo papel atribuído à Aliança Atlântica e à tradição marítima de liberdade entre os povos de língua inglesa na de- fesa do Ocidente.

Acredito que nada é mais extraordinário do que nos inspirarmos num ser verdadeiramente humano e democrata, como foi Winston Churchill.

O seu legado e os seus ensinamentos são inúmeros, dos quais destaco os seguintes:

  • Capacidade de execução de princípios políticos consistentes;
  • 55 anos de experiência governativa e parlamentar admirável;
  • Verticalidade na defesa inabalável de convicções pessoais e coletivas profundas e inalienáveis;
  • Sentido de Estado ímpar consubstanciado na procura permanente de soluções de compromisso e na capacidade de decifrar o presente para guiar a humanidade para um futuro melhor;
  • Firmeza de pensamento assente no comércio livre, liberdade individual e preocupação social com os mais carenciados;
  • Defesa intransigente da liberdade de opinião e de expressão como garantes de uma vida partidária saudável e de uma imprensa livre;
  • Predisposição permanente para combater tudo o que pudesse ameaçar a preservação da liberdade (práticas despóticas, tota- litárias, absolutistas, iliberais e tirânicas) como sejam o comunismo e socialismo. Por falar em socialismo, relembro a célebre frase do discurso de Winston Churchill na Câmara dos Comuns em 22 de outubro de 1945, que passo a citar - “A desvantagem do capitalismo é a desigual distribuição das riquezas; a vantagem do socialismo é a igual distribuição das misérias.”
  • Faceta “europeísta” inspiradora, principalmente a partir do célebre Discurso de Zurique de 1946, que passo a citar um excerto: (“…ainda é tempo para um remédio que, se genérica e espontaneamente adoptado, poderá, como por milagre, transformar todo o cenário, podendo em poucos anos fazer toda a Europa, ou grande parte dela, tão livre e feliz como a Suíça o é nos dias de hoje. Qual é este milagre soberano? É a recriação da Família Europeia, ou o mais possível que dela pudermos, provendo-a de uma estrutura sob a qual possa viver em paz, em segurança e em liberdade. Deveremos construir uma espécie de Estados Unidos da Europa. Só neste caminho poderão centenas de milhões de trabalhadores reencontrar as simples alegrias e esperanças que fazem com que valha a pena viver a vida.” (fim de citação);

Tal como então, esta visão ímpar de Sir Winston Churchill para a nossa amada Europa, continua, passados 76 anos, com uma validade e um sentido apreciáveis, pois volvido todo este tempo de oportunidade, a Europa, com que tantos milhões sonhavam, incumpriu com muito daquilo com que se comprometera, sendo muitas as razões para estarmos preocupados com o Projeto Europeu, nomeadamente:

  • escândalos políticos em governos nacionais e europeu que abalam a confiança entre eleitores e eleitos;
  • dependência energética face a países iliberais e populistas, que mergulhou a Europa numa crise energética sem precedentes;
  • Inverno demográfico profundo, com efeitos severos e duradouros ao nível social e económico, que colocam em causa o Wellfare State, pela primeira vez no período pós IIª Grande Guerra, e que, até a presente data, não teve uma resposta capaz por parte dos governos europeus;
  • crescimento anémico das economias face a outras espalhadas pelos quatro cantos do mundo, que resulta em desigualdades sociais, e na ascensão de laivos xenófobos numa desesperada procura do inimigo responsável pela perda de poder de compra e de qualidade de vida.

Minhas senhoras e meus senhores,

Se é verdade que o populismo representa um perigo para a democracia, também é certo que a própria democracia terá de corrigir algumas perversões e atualizar referências ideológicas, o que passa pela reinvenção do projeto da União Europeia e pela sua capacidade de recriar uma nova política económica pujante e “limpa”.

Acredito que nada é mais extraordinário do que nos inspirarmos num ser verdadeiramente humano e democrata, como foi Winston Churchill

Atlantic Conferences - Discurso de boas-vindas às Conferências do AtlânticoExmo. Senhor Presidente do Governo Regional da Madeira Exmo. Senhor Professor Doutor, João Carlos Espada Minhas senhoras e meus senhores,

O povo lutou pela sua liberdade e, passo a passo, a mesma conquistou terreno.

Os regimes democráticos tiveram a capacidade de se afirmar e de substituir as ditaduras brutais.

As pessoas combateram tradições retrógradas, aprenderam a pensar por si mesmas, em vez de obedecerem cegamente a preconceitos.

Os Homens construíram estradas abertas, edificaram pontes vigorosas e substituíram vedações e muros que os separavam e dividiam.

Todavia, nem tudo está bem no mundo e há muitos obstáculos a ultrapassar.

Porque acredito que a solidez subjacente aos 650 anos da inspiradora Aliança Luso Britânica, deve servir de base para estas Conferências, finalizo esta minha intervenção com um modesto e singelo apelo à responsabilidade e compromisso de liberdade e justiça por parte de cada um de nós aqui presentes.

Termino com um agradecimento à Presidência do Governo Regional da Madeira, particularmente pelo empenho pessoal e entusiasmo demonstrado pelo Exmo. Sr. Presidente do Governo Regional, Dr. Miguel Albuquerque, na realização destas Conferências, e ao Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portugue- sa, muito particularmente ao seu Exmo. Sr. Diretor, Professor Doutor João Carlos Espada, e a toda a equipa que o acompanha, pelo exemplar e incansável empenho organizativo evidenciado, que tornou possível estarmos aqui nestas Conferências do Atlântico que considero de categoria distinta e de qualidade honrosa.

Muito obrigado pela vossa presença, sejam bem-vindos às Conferências do Atlântico!


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