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Maria João Araújo

Maria João Araújo

Oxford University, Presidente do Comité de Coordenção Portugal-UK 650

Alexandra Araújo

Alexandra Araújo

Universidade do Minho

Portugal-UK 650 pretende celebrar e dar a conhecer a história comum, escrever novos capítulos de amizade e cooperação, desenvolver investigação científica sobre a Aliança, e promover os valores fundadores da Aliança no mundo atual.

O início formal da Aliança Luso-Britânica, a mais antiga aliança diplomática ainda em vigor, remonta à segunda metade do século XIV. A amizade Luso-Britânica antecede-a em, pelo menos, dois séculos. Do século XII é o conhecido episódio da Segunda Cruzada. Em 1147, um grupo de cruzados oriundos da Inglaterra e do norte da Europa no seu caminho para a Terra Santa, aportam no Porto e vão ajudar D. Afonso Henriques a reconquistar Lisboa. Depois da cidade ser reconquistada a maioria dos cruzados seguiu para a Terra Santa, enquanto outros ficaram em Portugal. Foi o caso de um grupo de ingleses, de entre os quais se destaca Gilbert de Hastings, que será o novo Bispo de Lisboa.

Desde este episódio que a amizade entre os dois países se manteve, ainda que com períodos de maior e menor proximidade. Já no século XIV, as relações comerciais foram reforçadas pelo tratado Luso-Britânico de 1353, assinado entre o Rei Eduardo III e Afonso Martins Alho, este último em representação dos mercadores e marinheiros de Portugal. Contudo, é na segunda metade do século XIV que as relações entre ambos os países ganham maior estabilidade. A fundação da Aliança Luso-Britânica encontra-se em três tratados desse período: o Tratado de Tagilde (1372), o Tratado de Londres (1373) e o Tratado de Windsor (1386).

José Miguel Sardica

José Miguel Sardica

Faculdade de Ciências Humanas e Instituto de Estudos Políticos Universidade Católica Portuguesa

O parto difícil da contemporaneidade liberal portuguesa contou sempre com a importantíssima ajuda do Reino Unido, no quadro da multissecular aliança luso-britânica.

1. A «Glorious Revolution» de 1688-89 fez da Inglaterra a primeira e mais antiga monarquia liberal do mundo. Seguindo o ritmo da chamada “era das revoluções”, o liberalismo chegou a Portugal apenas na primeira metade do século XIX, por um curso histórico recheado de avanços e de recuos, que passou pela devastação às mãos dos exércitos franceses invasores, por uma violenta guerra civil entre liberais e absolutistas e por anos de luta política endémica. Esse parto difícil da contemporaneidade liberal portuguesa contou sempre com a importantíssima ajuda do Reino Unido, no quadro da multissecular aliança luso-britânica – a mais antiga amizade diplomática do mundo, hoje com 650 anos de história ininterrupta.

Os dois países recordam as conjunturas mais importantes da aliança: a fundação, no final do século XIV; o apoio inglês à restauração da independência de Portugal face à Espanha, no século XVII; o alinhamento português com a Grã-Bretanha na guerra da sucessão espanhola ou na guerra dos sete anos, no século XVIII; a política africana de Lisboa e de Londres, na segunda metade do século XIX; ou o auxílio luso à causa aliada, nas duas guerras mundiais do século XX. Este texto abordará a aliança luso-britânica ao longo de um tempo porventura menos conhecido: o da primeira metade do século XIX. No momento inicial desse ciclo, entre 1807 e 1820, Londres estabeleceu um quase protetorado sobre Portugal, cujas razões radicaram tanto na luta portuguesa pela sua independência, como nas necessidades inglesas de defesa geoestratégica em face da hegemonia continental francesa. No segundo momento, entre o início da década de 1820 e o final da década de 1840, sucederam-se várias intervenções britânicas em Portugal, cujas razões radicaram nos pedidos portugueses e na vontade de Londres em reforçar no seu aliado o modelo político-social já existente no Reino Unido, assim alargando o seu domínio sobre a frente liberal euro-ocidental e o seu estatuto de maior potência do mundo.

Guilherme d'Oliveira Martins

Guilherme d'Oliveira Martins

Conselho de Administração, Fundação Calouste Gulbenkian; Conselho Editorial, Nova Cidadania

Afeto e curiosidade, eis o que sempre encontramos em António Mega Ferreira.

Foi um conhecimento de sessenta anos, desde os tempos do Pedro Nunes, com a diferença de três anos de idade, o que era muito quando se entrava no liceu. Mas havia um espírito especial feito de atenção ao que faziam os mais velhos numa espécie de escol, desde o teatro às artes plásticas ou ao desporto… O Pedro Nunes, que meu avô frequentara em 1914, criava raízes – e aí encontrei o António Mega Ferreira. Em tempos muito recentes foi meu companheiro no Conselho Editorial da Imprensa Nacional, e não esqueço a magnífica conferência na Embaixada de Itália sobre a Comédia de Dante ou uma deliciosa conversa na Associação Portuguesa de Escritores, à Lapa, na primeira edição do prémio Maria Ondina Braga, de literatura de viagens, galardão que viria a ser-lhe atribuído, há poucos meses, pelas “Crónicas Italianas”, quando já há muito deixara esse júri. Foi de peregrinações italianas que essa conversa versou, numa curiosa troca de informações sobre uma busca detectivesca a propósito de um misterioso fidalgo de Chaves que, entre 1510 e 1517, viveu em Roma e deixou um manuscrito de 92 fólios com preciosas informações sobre um período crucial na capital pontifícia – a batalha de Ravena, a morte de Júlio II, a eleição do Cardeal Médicis, Leão X, e a entrada em Roma da embaixada de D. Manuel, chefiada por Tristão da Cunha… Quem foi esse fidalgo de Chaves, criado de D. Jaime, 4º duque de Bragança? Não se sabe e por isso demo-nos a imaginar, concordando sobre a necessidade da publicação desse documento, estranhamente esquecido, em edição diplomática, depois do estudo e das revelações importantes do académico Paulo Alves. Conhecemos apenas a perspetiva arguta do fidalgo sobre o que se passava em Roma, em vésperas de grandes mudanças. Mas perguntámo-nos, nessa tarde, se o esforçado fidalgo escritor o teria sido apenas por incumbência funcional ou mais do que isso? António achava que havia mais do que um mero relatório, estando persuadido de que haveria um autêntico impulso literário nesse texto. A verdadeira identidade do fidalgo e a motivação para a escrita das Memórias ocupou-nos, mas no essencial era a paixão pelas práticas de viagem.

Guilherme d'Oliveira Martins

Guilherme d'Oliveira Martins

Conselho de Administração, Fundação Calouste Gulbenkian; Conselho Editorial, Nova Cidadania

Tais paradoxos correspondem a uma articulação futurante entre a compreensão das raízes culturais e históricas da tradição e a perceção crítica da modernidade.

Em lugar da simplificação tão repetida centrada num perfil conservador, temos de entender que, ao longo do seu percurso teológico e pastoral, o Papa Bento XVI foi uma figura de paradoxos virtuosos. E tais paradoxos correspondem a uma articulação futurante entre a compreensão das raízes culturais e históricas da tradição e a perceção crítica da modernidade. O pensamento do Papa Emérito constitui motivo para uma reflexão aprofundada sobre o fenómeno religioso – relacionando fé e razão, como necessário modo de compreensão da pessoa humana enquanto centro da vida, mas também como assunção do pluralismo e das diferenças em contraponto ao relativismo ético. Desde o tempo em que foi perito no Concílio Vaticano II, junto do Cardeal Frings de Colónia, assumiu uma evidente abertura de espírito, bem presente na fundação da revista “Communio”, com Hans Urs von Balthasar e Henri de Lubac, e nas Encíclicas fundamentais que subscreveu como Sumo Pontífice - “Deus Caritas Est”, “Spe Salvi” e “Caritas in Veritate”, além da “Lumen Fidei”, partilhada com o Papa Francisco. Bento XVI foi um grande intérprete dos sinais dos tempos. Tradição e modernidade, razão e fé, complexidade e unidade são elementos que caracterizam o paradoxo virtuoso, como exigência de sentido crítico e de reflexão sobre a novidade e a diferença. O facto de citar autores não religiosos ou seculares nos seus documentos, o que antes não acontecia, e de abrir novas pistas de reflexão, demonstra bem uma capacidade teológica e profética desafiante, que concede aos seus documentos uma fecundidade essencial. A esta consideração teológica, temos de somar a coragem de ter sido pioneiro no assumir das responsabilidades dos católicos em matéria de exemplo moral, de ter denunciado com veemência as faltas de membros da Igreja, bem como as injustiças económicas ditadas pela crise financeira. E recordo como a reflexão sobre a esperança (no contributo decisivo de Charles Péguy) foi, na expressão e na vivência de João Bénard da Costa, motivo de fortalecimento de uma fé renovada. De facto, Henri de Lubac, baseando-se na teologia dos Padres da Igreja em toda a sua amplitude, «pôde demonstrar que a salvação foi sempre considerada como uma realidade comunitária». Por isso, a Carta aos Hebreus fala da “cidade” e de uma salvação comunitária. Deste modo, o pecado é entendido como destruição da unidade do género humano, como fragmentação e divisão. A «redenção» aparece, assim, em “Spe Salvi”, «como a restauração da unidade, onde nos encontramos novamente juntos numa união que se manifesta na comunidade mundial dos crentes». Agostinho de Hipona apresentou, por isso, o seu ponto de partida com a expressão «vida bem-aventurada», citando o Salmo 144 (143), 15: «Feliz o povo cujo Deus é o Senhor». Para poder formar parte deste povo e viver eternamente com Ele, “o fim dos mandamentos é promover a caridade, que procede de um coração puro, de uma consciência reta e de uma fé sincera” (1 Tm 1,5)». E esta vida verdadeira, para a qual tendemos, depende da união existencial com um «povo» e apenas pode realizar-se para cada pessoa no âmbito de uma partilha, na qual «nós» existimos singularmente e em comum, o que pressupõe, precisamente, o êxodo da prisão do próprio «eu», pois só com este sujeito universal se abre o olhar para a fonte da alegria, para o amor em pessoa, para Deus.

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