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Allen Packwood

Allen Packwood

Director, Churchill Archives Centre, Churchill College, Cambridge

Em 1939, Churchill perspicazmente afirmou “Não posso prever a acção da Rússia. É um enigma, envolto em mistério, dentro de um enigma.”1

Pediram-me para falar sobre Churchill e a Rússia, mas também me deram apenas 15 minutos. Acho que se Winston estivesse aqui, teria exigido mais tempo.

A citação mais famosa de Churchill sobre a Rússia é que o país era “um enigma envolto em mistério, dentro de um enigma”. Churchill disse estas palavras a 1 de Outubro de 1939. Estas formaram uma passagem chave na sua primeira transmissão em tempo de guerra pela BBC. Ainda não era Primeiro-Ministro, tendo acabado de ser trazido de volta ao Gabinete por Chamberlain como Primeiro Lorde do Almirantado, mas isso – caracteristicamente – não o impediu de percorrer mais amplamente o cenário mundial.

A Palestra Alexis de Toqueville é um momento muito importante do ano académico do IEP, certamente o mais solene, e inclui a Sessão de Entrega de Diplomas do Instituto.

E deixem-me recordar que a Rússia estava nesse momento – em 1939 – aliada à Alemanha nazi, através do pacto Molotov- -Ribbentrop, assinado algumas semanas antes em Agosto, e que Estaline e Hitler haviam acabado de devorar a Polónia.

Dóra Gyorffy

Dóra Gyorffy

Universidade Corvinius, Budapeste

Não devemos ter ilusões: o ataque injustificável à liberdade e soberania da Ucrânia é um ataque ao Ocidente e a tudo o que ele representa.

Ao longo dos últimos anos, temos discutido no Estoril Political Forum as ameaças do autoritarismo à ordem internacional baseada em regras e à aliança transatlântica. Estes perigos foram sempre difusos. Havia muitas razões para examinar os falhanços internos das democracias ocidentais em vez de pôr o foco na guerra híbrida que já decorria e que a Rússia já vinha travando contra o Ocidente. Depois de 24 de fevereiro, a guerra está assumida. Não devemos ter ilusões: o ataque injustificável à liberdade e soberania da Ucrânia é um ataque ao Ocidente e a tudo o que ele representa. Como afirma Nicholas Tenzer1: “o que Putin quer destruir é a própria ideia de humana, e o que com ela vem: liberdade, beleza, nobreza de sentimento, generosidade, altruísmo, alegria, tudo o que representa alguma forma de magnificência… ele pretende mostrar… que as supostas forças da razão, moralidade e justiça nunca serão fortes o suficiente para resistir à pressão da libertação devastadora de qualquer regra.” O projecto niilista deve ser fortemente derrotado, a Ucrânia tem de vencer, e o Ocidente deve ajudar nas dimensões militar, política, económica e humanitária.

Embora a guerra tenha trazido clareza moral, Putin ainda conta com os fracassos ocidentais para cumprir os seus próprios ideais. A sua crença cínica sobre o declínio do Ocidente não é simplesmente uma ilusão, é também sustentada pela sua experiência pessoal com actores ocidentais.

O seu sucesso generalizado em corromper funcionários e empresários ocidentais poderia dar-lhe a impressão de que todos estão à venda e de que as referências a valores são apenas slogans vazios sem compromisso real. Ele tinha agentes a trabalhar para ele na política e no mundo dos negócios nos EUA, no Reino Unido e na União Europeia. É possível obter uma imagem precisa do ecossistema nos negócios e na advocacia ocidental ao ler o livro Freezing Order, recentemente publicado por Bill Browder2, arqui-inimigo de Putin e promotor da legislação Magnitsky em todo o mundo. A Rússia também tem influência sobre os governos ocidentais, e Putin demonstra confiança na sua capacidade de fomentar divisão na aliança transatlântica.3 Embora não consiga convencer os actores ocidentais da natureza justificável da sua guerra, apoiar várias narrativas de apaziguamento é um objetivo claro da propaganda russa que tem muito maiores probabilidades de sucesso.

Catherine Marshall

Catherine Marshall

CY Cergy-Paris Université, Paris

Uma ética de deferência pode ser a resposta para alguns dos males com que nos deparamos nos nossos tempos.

Devo começar desde já por explicar que acabei de publicar um livro sobre o conceito de deferência política, intitulado Political Deference in a Democratic Age: British Politics and the Constitution from the Eighteenth Century to Brexit. Estando o livro agora concluído, tenho-me interrogado se o uso de deferência política poderia ser estendido a outras democracias liberais no mundo.

Mas então, o que significa deferência? A definição mais comum está relacionada com a palavra francesa “déférer”, usada desde o século XIV, e que significa ‘ceder ou consentir’ à opinião de uma outra pessoa e mostrar-lhe a devida consideração como forma de submissão. No entanto, uma definição muito mais refinada foi-nos dada pelo pensador vitoriano Walter Bagehot (1826-1877). A sua definição afastava-se do significado elementar para sublinhar que deferência a alguém não significa necessariamente que essa pessoa seja um superior a quem tenha que se ceder ou obedecer. Deferência pode ser um acto de auto-controlo para o bem comum que não implica domínio. Talvez, e isso é mais importante para Bagehot, tal concepção de deferência ao poder tenha tido lugar numa estrutura social hierárquica que encorajava um certo código moral de conduta que se baseava na forma antiga de agir.

Ludger Gruber

Ludger Gruber

Director para Espanha e Portugal, Konrad Adenauer Stiftung, Madrid

Como podemos enfrentar o desafio autoritário? Como passamos da análise para a acção? Como podemos evitar que as democracias se tornem regimes autoritários?

Cara audiência,
Cabe-me a mim não apenas a honra de ser orador nesta 30ª edição do Estoril Political Fo- rum, como também a de ser o último.

A vocês, queridos alunos, gostava de expressar a minha admiração pela vossa perseverança ao longo dos últimos dias. Está quase! Muito pouco tempo vos separa do início da tão esperada festa.

Espero que, no final destes três dias, tenham percebido que os vossos esforços para ouvir, para tirar notas e para discutir valeram a pena. Receberam importantes estímulos sobre um dos temas mais relevantes do nosso tempo. Oradores e palestrantes de todo o mundo apresentaram análises esclarecedoras. A interdisciplinaridade e diversidade de perspectivas visíveis neste Forum são únicas. Precisamos de uma análise e reflexão profunda do que está realmente a acontecer.

Konrad Adenauer, primeiro chanceler da República Alemã e homónimo da fundação que represento, teria apreciado muitís- simo esta conferência. O confronto entre liberdade, democracia e autoritarismo foi a sua preocupação ao longo de toda a vida.

Guilherme d'Oliveira Martins

Guilherme d'Oliveira Martins

Conselho de Administração, Fundação Calouste Gulbenkian; Conselho Editorial, Nova Cidadania

Reli, nos últimos dias, os escritos de Pitta e Cunha. Encontrei uma coerência irrepreensível. E o seu sentido crítico merece especial atenção.

Rue Belliard, Berlaymont, Grand Place – na Primavera amena de 1976, tive o gosto de participar numa delega- ção portuguesa que visitou as instituições comunitárias. Paulo de Pitta e Cunha coor- denava o grupo, com eficácia e entusiasmo. Estava em cau- sa a preparação da adesão de Portugal às Comunidades Eu- ropeias – com Aníbal Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sou- sa, Jorge Miranda, Pedro Ro- seta… E aí nos encontrámos com o saudoso Camilo Martins de Oliveira – incansável cicerone no labirinto comuni- tário. Quando tive a notícia da inesperada morte de Paulo de Pitta e Cunha veio-me à me- mória essa inesquecível mis- são. E a essa lembrança jun- taram-se muitas outras, como tive oportunidade de recordar com o filho Tiago, em S. Se- bastião da Pedreira.

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