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Manuel Braga da Cruz

Manuel Braga da Cruz

Professor Catedrático e antigo Reitor (2000-2012) da Universidade Católica Portuguesa. Membro do Conselho Editorial de Nova Cidadania

O P. João Seabra foi um dos rostos mais visíveis da Universidade Católica, com quem ele se identificou e com quem ela se identificou.

Morreu o P. João Seabra, Prémio Fé e Liberdade atribuído pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica. Na sua vida multifacetada, sobressai a sua profunda ligação à Universidade Católica, onde foi aluno, capelão, professor, e Director do Instituto de Direito Canónico.

O P. João Seabra foi um dos rostos mais visíveis da Universidade Católica, com quem ele se identificou e com quem ela se identificou. O P. Seabra contribuiu de forma marcante para que a Universidade fosse Católica, não apenas no seu nome, mas na realidade. Através dele, a Universidade Católica marcou espiritualmente, e não apenas academicamente, várias gerações de estudantes. A Universidade foi durante muitos anos a sua casa. A ela regressava, com enorme satisfação, sempre que lhe era pedido um contributo. A Universidade Católica não teria sido o que foi, sem o P. João Seabra.

Guilherme d'Oliveira Martins

Guilherme d'Oliveira Martins

Conselho de Administração, Fundação Calouste Gulbenkian; Conselho Editorial, Nova Cidadania

Havia sempre com Leonor Xavier uma inesgotável capacidade de olhar e de nos fazer compreender melhor os segredos e enigmas da vida.

Leonor Xavier dizia: “a vida é um milagre, que procuro aproveitar, mas o forte é a minha relação de pasmo, de um imenso espanto e de gratificação” Era assim a Leonor. Um encontro em que estivesse era sempre uma oportunidade de alegria e de recordação. Tinha um especial talento para a generosidade e para fazer amigos. E gostava de lembrar a afirmação de Agustina Bessa-Luís: “a formosura do mundo é meu tesouro, pois dela faço torres de pensamento. E a grandeza do mundo não me tolhe, porque maior que tudo é a realidade de um coração que ama e sente”. Julgo que está aqui bem expresso aquilo em que sinceramente acreditava. Conhecia-a ainda antes de ter partido para o Brasil. O Alberto Xavier era meu professor na Faculdade de Direito, nas disciplinas económicas que me interessaram. Quando reencontrei Leonor foi no seu regresso do Brasil, em 1987, havia amigos comuns, trabalhos em conjunto, um grande entusiasmo - Helena e Alberto Vaz da Silva, António Alçada Baptista, Graça Morais, Raul Solnado, Agostinho da Silva, Ana Vicente, Eduardo Prado Coelho, Teresa Belo e mais recentemente José Tolentino Mendonça – o jornalismo cultural, a literatura, as artes, a poesia, as iniciativas do Centro Nacional de Cultura. Lembro-me de um tempo em que vinha à baila a palavra “escreviver”, na expressão de David Mourão-Ferreira. E Leonor tantas vezes repetia que assim se sentia, a saborear os acontecimentos da vida e o prazer de animar mil conversas, em tertúlias de geometria variável que eram sempre um motivo de novos temas e encontros… Era um tempo em que procurávamos que a afirmação de Emmanuel Mounier “o acontecimento é o nosso mestre interior” se tornasse uma verdadeira realidade. E o exemplo de Tristão de Athaíde ou Alceu Amoroso Lima teve a maior importância. Nessas amizades, “conversar com o António Alçada, segundo Leonor, era um exercício de alegria, pelo improviso, pelo encadeamento de fábulas e de histórias. Podia dizer que os portugueses dramatizam o calor do verão e o frio do inverno. Ou que os portugueses têm vergonha de ser felizes e os brasileiros têm vergonha de ser infelizes”.

Guilherme d'Oliveira Martins

Guilherme d'Oliveira Martins

Conselho de Administração, Fundação Calouste Gulbenkian; Conselho Editorial, Nova Cidadania

Fernando de Albuquerque, cidadão e aristocrata, o Morgado de Mateus, foi o exemplo de quem sempre foi capaz de ligar em permanência a história longa à memória que sempre se vai reconstruindo.

Quando nos despedimos com o afeto de uma amizade de mais de quarenta anos em novembro passado por ocasião da entrega do Prémio Vasco Graça Moura da Cidadania Cultural a Emílio Rui Vilar não poderia suspeitar que seria a última vez que nos encontrávamos neste mundo. Registo, porém, o sorriso de sempre do Fernando – o mesmo desde que o conheci, graças a Francisco Sá Carneiro, num velho encontro, animado pela ideia de contruirmos uma democracia social e cultural, que pudesse pôr Portugal numa Europa moderna e num mundo global, no qual a língua portuguesa se afirmasse num projeto de paz e de desenvolvimento, com novas independências africanas, nova relação com o Brasil e uma complementaridade viva num mundo global. E o Solar de Mateus tornou-se um lugar de encontros e de afirmação de uma cultura plural, aberta, cosmopolita, criativa e exigente. A democracia tinha de cultivar a qualidade. Portugal deveria tornar-se um ponto de encontro do que melhor se fazia, deixando o velho estigma de velha ditadura, isolada e pobre.

Guilherme d'Oliveira Martins

Guilherme d'Oliveira Martins

Conselho de Administração, Fundação Calouste Gulbenkian; Conselho Editorial, Nova Cidadania

O que interessou a João Seabra foi a capacidade de ligar fé e razão, e de cuidar da heterogeneidade e da multiplicidade de que a vida se faz.

Se houve alguém que soube colocar as suas qualidades excecionais de comunicador e de mobilizador de vontades, foi o Cónego João Seabra. Muito se tem dito e escrito sobre a sua personalidade cativante, mas a maior justiça que pode ser feita tem a ver com essas características inolvidáveis. Não foi, assim, por acaso que um dos projetos em que colocou maior esperança foi o projeto educativo, que terá uma importância perene e que revelará, por certo, no futuro, a importância dessa sua capacidade de generosa partilha. E ao colocar essa missão (porque de missão se tratou no melhor sentido da palavra) sob a invocação de S. Tomás de Aquino (1225-1274) fê-lo em genuína fidelidade não a qualquer perspetiva escolástica fechada, mas à dimensão profundamente renovadora do Doutor Angélico no seu tempo e na evolução dos tempos. De facto, como aconteceu com o português Frei João de S. Tomás, O.P. (1589-1644), o que interessou a João Seabra foi a capacidade de ligar fé e razão, e de cuidar da heterogeneidade e da multiplicidade de que a vida se faz. A realidade obrigava a disponibilidade de espírito – de modo a saber articular valores éticos e ideias e a complexidade do real. Dizia-se do Aquinense que se lhe dissessem que ia a passar um elefante voador, ele ia à janela para certificar-se se assim era. Essa pequena anedota que parecia menorizar o Santo não era, porém, outra coisa senão a demonstração da importância da experiência e da capacidade de ouvir e de ver. E essa foi a sua grande lição pedagógica, a de lançar sementes à terra para ver frutificarem ao longo dos tempos, sem a tentação de quer que os frutos se confundissem com modelos preconcebidos. E assim quem não tenha compreendido essa generosidade criativa, não entendeu a grande qualidade que continuará a dar resultados pela ação de João Seabra – o segredo da multiplicação.

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