Estoril Political Forum 2021
Jantar Memorial Konrad Adenhauer

Martin Ney
Embaixador da Alemanha, M.A. (Oxon.)
O fim da guerra fria desbloqueou as Nações Unidas: no início dos anos 90, as missões de paz tornaram-se possíveis e surgiram soluções globais. Porque é que este cenário luminoso — do qual precisaríamos muito hoje — se escureceu?
TRADUÇÃO Jorge Miguel Teixeira
Senhoras e Senhores, Os desafios que a comunidade internacional enfrenta hoje são bem conhecidos e mal precisam de enumeração: as alterações climáticas, as migrações, o terrorismo e a pandemia. O que éóbvio é que as respostas a estes desafios globais precisam de ser encontradas pela comunidade internacional como um todo, isto é, dentro das instituições internacionais existentes – como as Nações Unidas e outras organizações internacionais mais especializadas. Ora, estas organizações internacionais serão melhor descritas como plataformas ou mercados. Porque é isso que são. Vale a pena lembrar que estas apenas cumprirão as suas funções se os atores encontrarem a vontade política para perseguir soluções comuns. Quando os críticos dizem por vezes que ‘’a ONU’’ falhou neste ou naquele tópico, trata-se na verdade de um disparate. Nesses casos, dificilmente terá sido ‘’a ONU’’ a falhar, mas sim os atores nesta plataforma, ao não encontrarem um consenso sobre o caminho a seguir.
Quando olhamos para trás, podemos ver como durante a guerra fria os processos de decisão na ONU estavam quase completamente bloqueados. O fim da guerra fria desbloqueou as Nações Unidas: no início dos anos 90, as missões de paz tornaram-se possíveis e surgiram soluções globais. Porque é que este cenário luminoso – do qual precisariamos muito hoje – se escureceu?
Estoril Political Forum 2021
Almoço Memorial George Washington

Kirstin M. Kane
Chargé d’Affaires, Embaixada Americana em Lisboa
Agora é um momento crítico para as democracias se juntarem.
TRADUÇÃO Jorge Miguel Teixeira
Boa noite. Obrigado, António, pelas suas boas-vindas e introdução. Os meus parabéns ao Professor Espada e à Universidade Católica pela organização do Estoril Political Forum de 2021, de volta agora ao formato presencial na sua maior parte.É de facto um evento marcante em Portugal, e é com gosto que participo.
É com especial entusiasmo que sou a anfitrião desta discussão ao jantar, devido ao seu tópico: o National Endowment for Democracy, ou o NED – e os seus oradores, Carl Gershman, que foi seu presidente durante décadas; e Marc Plattner, vice-presidente durante anos, tendo colaborado com o Dr. Gershman no bem conhecido e aclamado Journal of Democracy.
Como muitos americanos que conhecem o seu excelente trabalho, sou há muito tempo fã do NED, bem como das suas organizações irmãs, o National Endowment for the Arts e o National Endowment for the Humanities – todas financiadas pelo governo dos EUA, mas todas inteiramente independentes. Vejo-as como enormes contributos feitos pelo contribuinte americano no trabalho crucial de fazer do mundo um lugar mais seguro, mais livre e mais esclarecido.
Estoril Political Forum 2021

Ian Crowe
Universidade Belmont Abbey, Carolina do Norte
Um artigo apresentado ao Estoril Political Forum, 20 de outubro de 2021.
Os meios através dos quais os Aliados ocidentais alcançaram a vitória em 1945 foram profundamente afetados pela sua capacidade de implementar os seus objetivos explícitos na guerra. Nos Estados Unidos, a expansão do acesso ao comércio e aos recursos naturais do mundo ficou ligado à preocupação com o facto de os ‘’direitos soberanos e a autodeterminação’’ estarem sob a ameaça do comunismo soviético triunfante. Para os britânicos, o declínio imperial face aos movimentos mundiais pela autodeterminação ameaçou os planos ambiciosos de financiar uma revolução no estado providência em casa.
Estas complicações impactaram o conservadorismo do pós-guerra nos dois lados do Atlântico, como vemos nas respostas salientes ao legado de Edmund Burke: havia Burke, o anti-ideólogo e campeão da Civilização Ocidental nos Estados Unidos e, no Reino Unido, uma versão mais discreta, pragmática, do estadista imerso na arte do possível. Quando o historiador de Fordham, Paul Levack, alogiou a ‘’elevada virtude inteletual’’ de Burke em defesa da Cristandade, o influente historiador de Cambridge, J. H. Plumb, descartou a sua filosofia política como ‘’um lixo absoluto’’. O Burke ‘’americano’’ estava plenamente adaptado à ameaça aos princípios da Carta Atlântica que representava uma ideologia ateia: o modelo britânico, ‘’despido, não equipado,’’ estava adaptado às consequências mais circunstanciais da paz, desde que a R-word – Religião – fosse evitada!
Estoril Political Forum 2021
Brasil e América Latina - O Desafio Democrático

Ricardo Sondermann
Instituto Estudos Empresariais, Porto Alegre
A liberdade enquanto realidade alcançável.
Antes de mais gostaria de agradecer o convite do caro João Espada, e na pessoa dele a toda a equipa do IEP-UCP.É um prazer estar mais uma vez com o grande Pondé, os meus amigos Bruno Garschagen, co-fundador do ICS-Brazil, Leonidas Zelmanovitz, amigo de mais de 30 anos, Gabriel Torres, meu presidente e o nosso líder, João Pereira Coutinho.
Lembro-me de uma resposta que dei a uma pergunta de [João Pereira] Coutinho, quando afirmei que o Brazil seria sempre um mercado, mas dificilmente uma nação. Encontramo-nos agora numa terrível encruzilhada: por um lado, um presidente rude e grosseiro que, nas palavras do jogador Romário: ‘’quando está calado, é um poeta’’, sendo, ainda assim, um presidente bem intencionado. Vale a pena lembrar os vários avanços na legislação sobre o saneamento, o transporte ferroviário, a venda de empresas públicas, de infrastruturas e, especialmente, a existência de poucos casos de corrupção e desvio de fundos. Se existissem, acreditem, estariam expostos nos média todos os dias. Por outro lado, um antigo presidente rude e grosseiro que se sustenta através da simpatia mediática por ter sido um sindicalista e trabalhador metalúrgico mas que, não nos enganemos, era e é o maior ladrão da história de um país pródigo em corrupção política. E temos uma terceira via em disputa entre dois homens cuja vaidade transcende qualquer escala de medida e, como diz o diabo no fim de um filme famoso: ‘’a vaidade é o meu pecado favorito.’’
Estoril Political Forum 2021

António Roberto Batista
Távola, Campinas
A democracia e a liberdade política não são uma condição natural ou espontânea. Não acontece por acaso.
É uma grande honra para mim estar entre os convidados a contribuir para as reflexões destes dias sobre democracia, seu futuro e os desafios que despontam adiante. Trata-se de uma honra, mas também de uma grande responsabilidade que espero não desmerecer, oferecendo algumas observações que contribuam para o nosso intercâmbio de ideias.
Em primeiro lugar, cumpre assinalar alguns pontos de referência. Mesmo alguns relativamente óbvios:
• O primeiro deles é que a palavra democracia tem muito prestígio e por essa razão e outras de raiz teórica, que não nos cabe discutir aqui, tem uso um tanto largo, inclusive por regimes políticos a que nenhum de nós se referiria dessa forma. Deixemos claro, portanto, que estamos nos referindo aqui, como acredito que em todo o nosso Fórum, à Democracia Liberal, com suas variantes nacionais de operacionalidade, mas com uma tradição intelectual germinada no espaço ocidental de cultura, como muito bem exposto no livro “Liberdade como Tradição” do professor João Carlos Espada.