
Gary J. Schmitt
Senior Fellow, American Enterprise Institute, Washington, DC
Seria difícil, talvez impossível, que alguém minimamente sensato sugerisse agora que a aliança está “obsoleta” ou que não irá continuar relevante no futuro.
A invasão da Ucrânia por parte da Rússia colocou novamente em foco a re- levância da NATO para a segurança europeia. Ten- do em conta a situação na Ucrânia, no Mar Negro e o comportamento e as declarações de Putin sobre o destino imperial da Rússia, seria difícil, talvez impossível, que alguém minimamente sensato sugerisse agora que a aliança está “obsoleta” ou que não irá continuar relevante no futuro.
O Passado
Um olhar para o passado da NATO irá ajudar-nos a compreen- der as suas perspectivas futuras. Para começar, a NATO nunca esteve tão paralisada como sugeriu o Presidente francês. Repetidamente, a NATO adaptou-se a cenários estratégicos em mudança – desde o início da Guerra Fria, ao longo da era do desanuviamento e nas últimas etapas da política de contenção, o fim da Guerra Fria, à presente tentativa da Rússia de desafiar a segurança europeia.
Quando os EUA fizeram novas exigências tácticas e estratégicas, a NATO correspondeu. Os parceiros da Aliança nunca restringiram propriamente a liderança americana.

Giandomenica Becchio
Università degli Studi di Torino
Porque é que temos tantos intelectuais que estão a fazer os seus melhores esforços para culpar a NATO e para explicar as razões da Rússia para atacar a Ucrânia?
Há dois anos, Krastev e Holmes publicaram o seu livro, A Luz que Falhou: Porque é que o Ocidente está a Perder a Luta pela Democracia, um livro sobre o destino da democracia liberal depois do colapso da União Soviética especialmente considerando as consequências da expansão da democracia liberal para o leste. Os autores sugeriam que, em trinta anos, desde o fim do comunismo, o processo de transformação de antigas ditaduras em democracias liberais tinha falhado: uma nova era de autocracia começou nesses países junto com uma onda de populismo que envolveu também os países ocidentais.
Os autores afirmam que uma das principais características desse fracasso foi o ressentimento contra o processo de “ocidentalização” pós-1989. Esse ressentimento envolvia especialmente as velhas gerações, tanto nostálgicas de um sonho sem fim (que era na verdade um pesadelo) como presas a um anti-americanismo tradicional, mas também as novas gerações que não cresceram durante os regimes comunistas e que, na verdade, não podem fazer qualquer comparação entre os dois sistemas, a menos que tenham sido educados para entender e elaborar a complexidade de conceitos como liberdade, individualismo e a responsabilidade de ser cidadão num quadro político embutido no sistema do Es- tado de Direito, ou seja, a menos que tenham sido educados para a democracia liberal.

Olena Kolodiy
Aluna de Doutoramento IEP-UCP
Ancorar a identidade nacional da Rússia nos valores conservadores aumenta a bona fides da Rússia na vanguarda de uma coligação anti Ocidente.
Considerações iniciais
No dia 25 de dezembro de 1991, a bandeira soviética baixou pela última vez sobre o Kremlin, descartando o sistema comunista que vigorou durante 74 anos. No início do dia, Mikhail Gorbachev re- nunciou ao cargo de Presidente da União Soviética, deixando Bo- ris Ieltsin como Presidente da recém-formada Federação Russa.
Durante a transição da República Socialista Soviética da Rús- sia para a Federação Russa, a Presidência de Ieltsin caracterizou- -se por um “vazio ideológico”. Os velhos ideais e valores comu- nistas tinham desaparecido, contudo os novos valores ainda não tinham sido implementados. Foi neste contexto que Vladimir Putin foi introduzido na arena política.

Ludger Gruber
Director para Espanha e Portugal, Konrad Adenauer Stiftung, Madrid
Como podemos enfrentar o desafio autoritário? Como passamos da análise para a acção? Como podemos evitar que as democracias se tornem regimes autoritários?
Cara audiência,
Cabe-me a mim não apenas a honra de ser orador nesta 30ª edição do Estoril Political Fo- rum, como também a de ser o último.
A vocês, queridos alunos, gostava de expressar a minha admiração pela vossa perseverança ao longo dos últimos dias. Está quase! Muito pouco tempo vos separa do início da tão esperada festa.
Espero que, no final destes três dias, tenham percebido que os vossos esforços para ouvir, para tirar notas e para discutir valeram a pena. Receberam importantes estímulos sobre um dos temas mais relevantes do nosso tempo. Oradores e palestrantes de todo o mundo apresentaram análises esclarecedoras. A interdisciplinaridade e diversidade de perspectivas visíveis neste Forum são únicas. Precisamos de uma análise e reflexão profunda do que está realmente a acontecer.
Konrad Adenauer, primeiro chanceler da República Alemã e homónimo da fundação que represento, teria apreciado muitís- simo esta conferência. O confronto entre liberdade, democracia e autoritarismo foi a sua preocupação ao longo de toda a vida.

Daniela Nunes
Doutoranda, IEP-UCP
A morte de Gorbatchov encerrou definitivamente a história de um grupo de heróis que ajudaram a pôr termo à Guerra Fria, e de que Gorbatchov foi justamente o último reduto.
Primeiro Ronald Reagan (Presidente Norte-Ame- ricano, 1981-1989), em 2004; depois Margaret Thatcher (Primeira-Mi- nistra Britânica, 1979- 1990), em 2013; Eduard Shevardnadze (Ministro dos Negócios Estrangeiros Soviético, 1985-1990), em 2014; e Helmut Kohl (Chanceler Alemão, 1982-1998), em 2017. Outros haveria a referir, mas a perda destas figuras desproveu especialmente o Mundo e a Política de uma forma de governar provavelmente extinta no final do século XX. Maiores princípios e cautela guiaram estas personalidades do que aqueles que guiam hoje quem já não guarda memória do tempo em que se construíam muros. Gorbatchov, como os outros supramencionados, deve ser recordado por estes princípios, por esta cautela e pelo derrube de vários muros, assim como pelas caraterísticas humanas que sempre o distinguiram do modelo tenebroso representado pelos seus antecessores. Gorby, como ficou carinhosamente conhecido no Mundo Ocidental, levou consigo a alma de um libertador. Connosco, deixou um importante legado de lições e transformações demasiadamente desconsideradas por uma sociedade livre e confortável, outrora dominada e oprimida.
Gorbatchov foi nomeado Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) a 11 de março de 1985. A sua chegada ao poder traduziu imediatamente um conjunto de fortes expetativas, dentro e fora da URSS, sobretudo fundadas no aspeto jovem, gentil e simpático do novo rosto do Kremlin – recorde-se que em apenas três anos, entre 1982 e 1985, a União Soviética vira morrer três líderes (Brezhnev, Andropov e Chernenko).