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A Inspiração Transformadora Pode vir da Índia


 

A corôa britanica conseguiu na Índia alguns feitos como o de unificar o território, legar uma matriz de convivência política e democrática e uma coluna vertebral de caminhos de ferro, entre outras coisas.

 

Eugénio Viassa Monteiro

Presidente do IDEA – Instituto de Estudos Asiáticos, Professor da AESE. Autor de “O Despertar da Índia”

Mas a História julgará como reduziu a nada uma economia pujante: em 1870 a Índia era o país do ‘terceiro-mundo’, com fome, pobreza e privação, no dizer de William Darlymple, inglês; quando em 1500 a Europa cobiçava a Índia pela sua riqueza e fabuloso comércio. Em 1952, a riqueza produzida seria de 2,3%, quando em 1700 fora de 22,6% da riqueza mundial, segundo Angus Madison, também inglês.

Em 1991, com o fim do ‘socialismo indiano’, a liberdade de empreender e, com ela, as iniciativas dispararam: micro, mini, pequenas, medias e grandes empresas – e dessas dezenas de multinacionais – apareceram e prosperaram. Do país da ‘não-qualidade’ a India dá cartas em produtos Industriais e em Serviços; de 2000 a 2008, dos 29 Prémios Deming de Qualidade atribuídos, foram 15 a empresas Indianas. No dizer do The Economist, no ranking das 400 melhores empresas de TI, feito pela Carnegie Mellon University, quase todas eram Indianas!

Iniciativas na saúde multiplicam-se, para servir as ingentes necessidades internas e para atender centenas de milhar de enfermos estrangeiros que buscam a Índia para alívio e cura. Todos os grupos privados Indianos da Saúde: Apollo Hospitals of Índia (com 44 Hospitais e mais 25 em construção), Fortis, Narayana Hrudayalaya (com 3.000 camas hospitalares, contando chegar às 30,000 camas até 2015), Max Hospitals, etc., estão com uma dinâmica de rapidíssima multiplicação de camas Hospitalares. O microseguro de saúde está a ser o impulsionador da ‘saúde para todos’, sobretudo a pobres. A indústria farmacêutica e de biotecnologia está em expansão –com Farmácias dos grupos de saúde espalhadas pelo país–, adquirindo incessantemente unidades na UE e nos EUA e vice-versa. A Índia tem actualmente mais de 75 fábricas de fármacos aprovadas pela FDA-Food and Drug Administration para satisfazer, além da crescente procura interna, a elevada percentagem de ‘genéricos’ ao mercado mundial. O sector da saúde vai precisar de profissionais em crescente número até alcançar os 3,5 milhões em 2020.

O Ensino é obrigatório dos 6 aos 14 anos e um ‘Direito Humano’. O vastíssimo programa de criação de Escolas de todos os níveis, sem faltar as de Ensino técnico-profissional e Centros de orientação vocacional e de treino profissional, é prova da determinação em capacitar os cidadãos para apoiar o vigoroso crescimento em que toda a Índia está empenhada. Uma curiosidade: até 2020 pensase ser necessário criar mais 800 novas Universidades, com 35.000 Faculdades a acrescentar às 490 Universidades actuais, com 22.500 Faculdades, tal vai ser o boom da população universitária.

A pobreza é chocante, e infelizmente a luta contra ela anula-se fortemente nos meandros da corrupção instalada. É certo que Governantes e empreendedores fomentam investimentos para criar trabalho, também nas zonas rurais e na agricultura – que ocupa 55% da população–, e onde falta reduzir estragos (cerca de 30% da produção se perde por más infra-estruturas de transporte, de armazenamento e de frio) para além de acrescentar valor, com novas culturas, mais ricas (flores, primores, etc.), e bastante mais processamento e exportação de alimentos.

O sector Industrial vai necessitar de muitos técnicos e especialistas, operadores de máquinas e de manutenção, que podem exceder facilmente 2,5 milhões por ano. Por si só o sector das TI, com o BPO e o KPO-Knowledge Process Outsourcing, pode criar 10 milhões de postos de trabalho directos e mais 20 milhões indirectos nos 10 próximos anos. O turismo, em grande crescimento, com todas as actividades afins, pode necessitar de 4 a 5 milhões de profissionais por ano.

Há a determinação de que o desenvolvimento seja inclusivo: na indústria, e em produtos de consumo abunda a I&D para reduzir custos. Variada aparelhagem (p.ex. carro Nano, purificador de água, mini-frigorífico, fogão aperfeiçoado, electrocardiógrafo, etc.) é reprojectada para se fabricar a 1/10 do custo, com melhor prestação e robustez! Jeff Immelt, CEO da GE, fala da reverse innovation, para vender nos EUA produtos aperfeiçoados e fabricados na Índia, a um preço muito mais acessível. Inclusão também na bancarização de pobres e rurais, em colaboração com grupos privados criativos e dinâmicos.

com o fim do ‘socialismo indiano’, a liberdade de empreender e, com ela, as iniciativas dispararam: micro, mini, pequenas, médias e grandes empresas – e dessas dezenas de multinacionais – apareceram e prosperaram. Do país da ‘não-qualidade’ a India dá cartas em produtos Industriais e em Serviços; de 2000 a 2008, dos 29 Prémios Deming de Qualidade atribuídos, foram 15 a empresas Indianas.

Melhorar infraestruturas é palavra de ordem: o metro de Delhi tem 210 kms e vai começar brevemente a sua 3ª fase; Mumbai, Bangalore, Chennai, Hyderabad e Kolkota estão a construir o seu. Mais de 10.000 kms de autoestradas; estradas nacionais em franca melhoria. Os Railways em expansão e modernização. Os portos em ampliação e mecanização. Os aeroportos das grandes cidades, novos (em Cochin, Bangalore, Hyderabad) em regime de ppp-public, private, partnership, ou upgraded (os de Delhi, Mumbai). Muitas novas centrais de energia (potencia acrescentada de 15.800 MW só no último ano).

Longo caminho falta ainda trilhar: há mais de 300 milhões a viverem abaixo do limiar da pobreza e/ou analfabetos. A assistência médica nas zonas rurais é ainda inexistente ou pobre, pelo que se está a dotar o país de Centros de Saúde, Hospitais e muitas mais Faculdades de Medicina (está previsto criar-se 500 novas Faculdades nos próximos cinco anos, de modo a que no ano 2025 se possa alcançar a proporção preconizada pela OMC-Organização Mundial da Saúde, de 1 médico por 800 pessoas).

A Índia – após a humilhação da dominação Britânica e o estrondoso fracasso do ‘socialismo indiano’ –, parecia irrecuperável dos dois traumas. Contudo, a pouco e pouco, nos últimos 20 anos foi ganhando confiança nas capacidades de realizar cometimentos, como já fizera abundantemente muito antes da colonização. E agora poderá ser a sua oportunidade histórica de se transformar mais profundamente, enterrando práticas anacrónicas –sistemas de castas e as práticas discriminatórias, corrupção, dotes, etc., – e navegar na onda do sucesso intelectual e técnico, como vem fazendo com os IT, centrando as capacidades produtivas para dar mais e melhores serviços ao Mundo, sobretudo de cuidados especializados de saúde, de KPOKnowledge Process Outsourcing, de I&D e oferecendo produtos industriais de alta sofisticação a baixos preços.

O País esteve de rastos até 1991. Em poucos anos foi somando pequenos/grandes sucessos atrás de sucessos, embora ainda haja muitíssimo por fazer. A forte aposta na Educação aliada ao espírito empreendedor, que se foi apurado nos anos de carência, podem explicar os passos firmes que a Índia está a dar. E que qualquer país, desejoso de ultrapassar garbosamente as suas crises, deveria imitar:

  • Dando muita exigência e conteúdo ao seu ensino;
  • · Incutindo criatividade nos Programas das disciplinas e, sobretudo, fazendo viver uma boa dose de austeridade, esquecida, que faz valorizar quanto se possui, e torna a juventude determinada para conseguir objectivos árduos, mas valiosos.

É preciso, definitivamente, declarar guerra ao consumismo, para se reequilibrar a economia, mas muito mais para que cada um eduque o auto-domínio e a força de vontade para trabalhar esforçadamente no que vale a pena.


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