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A Marinha em África As campanhas portuguesas em águas interiores de 1961 a 1964


A Marinha em África As campanhas portuguesas em águas interiores de 1961 a 1964

A Academia de Marinha publicou, no passado dia 29 de Abril, o livro ”A Marinha em África- As campanhas portuguesas em águas interiores de 1961 a 1964” da autoria de John P. Cann, antigo aviador da Marinha dos Estados Unidos da América e actual professor de Assuntos de Segurança Nacional no Instituto Superior de Comando e Estado-Maior do Corpo de Fuzileiros dos EUA .

John P. Cann
A Marinha em África - As campanhas portuguesas em águas interiores de 1961 a 1964

Academia de Marinha

por Nuno Vieira Matias Nuno Vieira Matias

Presidente da Academia de Marinha

Oseu interesse pelo estudo das últimas campanhas militares que Portugal manteve no então Ultramar começou nos fins da década de oitenta, quando ocasionalmente era colocado como reforço do Comando NATO, em Oeiras. Fascinaram-no as trocas de impressões que manteve com oficiais portugueses dos três ramos, todos antigos combatente em África, num conflito mal conhecido e muito pouco divulgado em língua inglesa. Nascera, assim, um enorme gosto pelo estudo da subversão e dos conflitos assimétricos que o levou a dedicar-se, de forma abrangente, à pesquisa das nossas campanhas militares em África, de 1961 a 1974.

A Marinha em África As campanhas portuguesas em águas interiores de 1961 a 1964

A obra agora editada é o resultado de um profundo, competente, arguto e isento trabalho de investigação levado a cabo pelo Prof. John P. Cann, ao longo de duas décadas, sobre o papel da Marinha Portuguesa, no contexto das campanhas das Forças Armadas portuguesas em África, de 1961 a 1974. Por isso, constitui um documento de invulgar valor para a historiografia dessa época.

Conheci o Autor em 1994, mesmo no final de uma deslocação que fez a Lisboa, destinada à pesquisa de elementos para o que viria a ser a sua tese de doutoramento no King´s College de Londres, sobre as últimas campanhas portuguesas em África. Esgotámos as escassas horas que lhe faltavam para partir de Portugal a falar da acção da Marinha, navios e fuzileiros, no âmbito das operações de contra-subversão na Guiné, em Angola e em Moçambique e comprometi-me a enviar-lhe mais alguns elementos, mesmo em Português, língua que também domina.

Três anos mais tarde, fui surpreendido pelo livro que me mandou “Counterinsurgency In Africa – The Portuguese Way of War 1961-1974”, da Greenwood Press e que havia resultado da bem sucedida tese apresentada naquela universidade londrina. Curiosamente, a dedicatória que amavelmente me dirigiu, termina “...in the hope that our paths will cross again, and often.” E, de facto, assim foi. Continuámos, felizmente, a cruzarmo-nos com frequência, começando logo em 1998, por altura do lançamento em Lisboa, de “Contra-Insurreição em África – o modo português de fazer guerra -1961-1974” (Atena).

Nessa altura, encontrando-me a chefiar a Marinha, desafiei-o a continuar o trabalho, que até aí tinha visado maioritariamente as acções em terra, desenvolvendo mais a investigação sobre a acção da Marinha nas três frentes africanas. Para isso, poderia passar a contar com os arquivos e as pessoas da Marinha adequados, que quisesse consultar.

Em boa hora John Cann aceitou a exigente e trabalhosa sugestão, coroada em 2007 com a edição do livro “Brown Waters of Africa: Portuguese Riverine Warfare 1961-1974”, publicado nos EUA pela Hailer Publishing e traduzido, em 2009, pela Prefácio, com o título “A Marinha em África - Angola, Guiné e Moçambique: Campanhas Fluviais 1961-1974”. Foi um livro muito procurado pelos que serviram em África, sobretudo marinheiros, e que suscitou vasto interesse. Por isso, a Academia de Marinha resolveu estimular a sua análise, visando a obtenção de mais alguns relatos testemunhais e de sugestões complementares. E, nova e eficientemente, o Autor trabalhou os dados coligidos com os quais enriqueceu a obra e promoveu outra edição publicada, em 2013, pela Helion & Company Ltd, em Londres. Esta detém todos os direitos em língua inglesa e, em língua portuguesa, é a Academia de Marinha a titular dessa regalia, cedida pelo autor, por um Euro…

Em todo este longo e intelectualmente activo contacto com o Autor, apercebi- -me do seu vasto conhecimento de conflitos contra insurreccionais, das suas qualidades de investigador e académico e do interesse genuíno que tinha em conhecer com rigor as últimas campanhas militares dos Portugueses em África. Ficou claro, também, que, com o desenvolvimento das pesquisas, aumentava a sua admiração pelo nosso País e pela forma como, com tão reduzidos recursos, veio a sustentar durante 13 anos, em três longínquas frentes, uma guerra contra insurreccional, lutando com inimigos treinados e bem armados no exterior.

A Marinha em África As campanhas portuguesas em águas interiores de 1961 a 1964No caso da Marinha, o Autor apercebera- se da sua visão inovadora, ao gizar uma estratégia marítima de grande flexibilidade de processos e de amplo espectro de utilização previsível, no mar, nos rios e em terra. E entendeu mesmo que “as debilidades da sua utilização podem atribuir- se à primazia do Exército e à falta de percepção por parte dos respectivos chefes do modo como uma Marinha de águas interiores pode ser mais eficientemente usada em apoio de uma campanha terrestre de contra-subversão “ (v. Prefácio do Autor). Pode dizer-se mesmo que John P. Cann construiu um excelente documento histórico sobre a acção da Marinha Portuguesa em Africa (1961-1974), baseado em documentos autênticos e em testemunhos directos, usados de forma profissional, inteligente e muito isenta.

Não tenho, por isso, dúvidas em afirmar que o modo como perpassa por todo o livro a sua admiração pela Marinha portuguesa deve ser motivo de orgulho para todos os Portugueses Marinheiros. E, se dúvidas houvesse, bastava ler o último parágrafo do Prefácio, onde o Autor indica que “A perspicácia e a ponderação da perspectiva da Marinha portuguesa manifestada na concepção e emprego de uma capacidade fluvial importante nos adversos confins de um continente distante constitui ainda hoje um modelo relevante, que continua a influenciar a configuração de Marinhas actuais e futuras que pretendam actuar em zonas costeiras e águas interiores onde se acoitem novos inimigos e aproveitar a oportunidade para influir nos acontecimentos”.

Durante o lançamento do livro, a Academia de Marinha, felicitou vivamente o Professor John P. Cann, também seu Académico, pelo excelente trabalho produzido e agradeceu-lhe, pela verdade da Obra, a homenagem que presta aos Marinheiros Portugueses que se sacrificaram em África, “...e bem serviram sem cuidar recompensa”.


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