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O sentido, ou propósito, do trabalho da universidade

Isabel Capeloa Gil

Isabel Capeloa Gil

Reitora da Universidade Católica Portuguesa

O Professor Jorge Miranda tem-se destacado na defesa intransigente dos valores de liberdade e dignidade tão claramente plasmados na nossa Constituição.

Sr. Diretor do Instituto de Estudos Políticos, Sr. Prof. Jorge Miranda, Senhores Professores, Caros graduados e suas famílias, Distintos convidados, colaboradores da Faculdade, Minhas senhoras e meus senhores

Celebramos hoje o fim de um ciclo e o início de outro mais,- diríamos porventura que após a suspensão de eventos académicos institucionais provocada pela pandemia, que nesta ocasião celebramos não ainda o fim, nem o princípio do fim, mas certamente já o fim do princípio da pandemia - e nesta ocasião é inevitável ponderar os projetos e os conseguimentos, e bem assim salientar o sentido, ou o propósito, do trabalho da universidade. Nas universidades americanas, este momento é designado ‘commencement’ – uma graduação que é simultaneamente um começo - , o que implica um olhar sobre a universidade como ciclo e continuidade. A vida da universidade não concebe um término, o fim, a graduação representa o início de um novo ciclo para os jovens profissionais e a cerimónia de entrega de diplomas renova a missão da universidade como doadora universal de saber e gestora global de talento. De modo simples, trata-se de não esquecer as duas questões centrais que as universidades se devem sistematicamente colocar: o que é que fazemos bem? Para que é que servimos e quem servimos? No fundo, trata-se de formular na nossa atividade as questões ances trais acerca da verdade e do bem. O que fazemos bem é procurar constantemente a verdade através da investigação e do diálogo enriquecedor e diário com a comunidade de estudantes. Para que servimos: basicamente para contribuir para o bem da sociedade, para a melhoria da condição humana e a defesa da casa comum.

O sentido, ou propósito, do trabalho da universidadeNo Instituto de Estudos Políticos, a cerimónia de graduação está associada à Palestra Anual Alexis de Tocqueville, que honra o contributo deste grande pensador para o que o Diretor do IEP designa ‘a liberdade ordeira sob a lei’ na sua obra magistral The Anglo American Tradition of Liberty: A View from Europe (2016), e que constitui um desiderato central do modelo de ensino de Ciência Política e Relações Internacionais no instituto. Este ano, a cerimónia é também a ocasião para celebrar o contributo do sr. Prof. Jorge Miranda para o desenvolvimento do país no espírito desta ‘liberdade ordeira sob a lei’ . O Prémio Fé e Liberdade, instituído em boa hora pelo IEP, constitui um verdadeiro exemplo da forma como a identidade católica se verte na ação da universidade. Não só pelo reconhecimento que traz a figuras marcantes da ação e do pensamento católico, figuras transformadoras da tessitura económica, cultural, social de Portugal; mas também pela forma como afirma sem ambiguidade a íntima relação entre a fé e a liberdade e a universidade como instituição que por definição articula esta relação. O agraciado de hoje é o mais distinto constitucionalista português, figura a quem Portugal deve a estruturação de uma ordem constitucional, que funda um sistema democrático robusto, garantindo a liberdade, os direitos fundamentais e a igualdade perante a lei. Doutorado em Ciências Jurídico-Políticas e Professor Catedrático das faculdades de Direito da Universidade de Lisboa e da Universidade Católica, desde 1985, O Prof. Jorge Miranda tem-se destacado na defesa intransigente dos valores de liberdade e dignidade tão claramente plasmados na nossa Constituição. Saliento apenas a título representativo a liberdade e aprender e ensinar, o combate em defesa a vida contra a aprovação da lei da eutanásia e, mais próximo da nossa universidade, a defesa da especificidade do Estatuto da Universidade Católica Portuguesa face ao sistema de ensino superior português. A Universidade Católica Portuguesa agradece ao jurista, ao professor, ao homem de fé e defensor da liberdade, o seu labor em prol da universidade, do país, na defesa intransigente da liberdade e dignidade da pessoa.

Bem haja.

***

O sentido, ou propósito, do trabalho da universidadeA Universidade Católica orienta-se por uma constante capacidade de aspirar, de ir mais além, a cada ano, a cada mês. Queremos afinal promover a capacidade de aspirar, determinante para que as pessoas e as sociedades possam crescer  ancoradas nos valores sólidos do humanismo e capacitadas para desempenho profissional de qualidade. Como recordava Ortega Y Gassett “Só é possível avançar quando se olha longe. Só é possível progredir quando se pensa grande.”

Este não é o tempo para um pensamento instrumental e linear, para uma quantificação sem conceito, mas o tempo para trabalhar a ‘alma da universidade’, como indica a recente obra de Chris Brink, antigo Vice-Chancellor da Univ. de Newcastle: The Soul of a University. Why Excellence is Not Enough (2018). E esta alma é na Universidade Católica centrada nos valores da pessoa, na defesa da justiça, da verdade, da liberdade e do bem; ancorando-se num princípio inquebrantável de diálogo, entre disciplinas, faculdades, culturas, religiões, no respeito pela diferença e na afirmação de um espírito de universalismo global, mais próximo afinal do modelo profundamente cosmopolita da universidade medieval, como defendeu Umberto Eco, do que na limitação nacional da universidade moderna de matriz humboldtiana. Para a universidade, a geografia não mais é destino, ela não é um limite, mas um ponto de passagem.

O sentido, ou propósito, do trabalho da universidadeAgradeço reconhecida às famílias a confiança no labor da Universidade Católica Portuguesa

Os diplomados em Ciência Política e Relações Internacionais da UCP são a materialização do que fazemos bem. É aos estudantes que servimos, para capacitar uma sociedade respeitadora da lei, orientados por um princípio basilar do ensino superior católico, contribuir para a justiça social e o bem comum. É no vosso sucesso, e na diferença que farão que se manifesta a verdadeira alma da UCP.

Agradeço reconhecida às famílias a confiança no labor da Universidade Católica Portuguesa, diariamente trabalhamos para justificar o compromisso que convosco estabelecemos e contribuir para um futuro em que os vossos filhos e filhas sejam agentes de mudança para uma sociedade mais aberta e democrática. Neste novo começo, dou os parabéns aos novos licenciados e mestres, desejo-vos uma vida íntegra nos princípios, honrando a matriz da vossa Alma Mater , e que sejam felizes.


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