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Alexandre Soares dos Santos, homem livre e solidário

Manuel Braga da Cruz

Manuel Braga da Cruz

Professor Catedrático e antigo Reitor (2000-2012) da Universidade Católica Portuguesa. Membro do Conselho Editorial de Nova Cidadania

Alexandre Soares dos Santos (1934-2019) foi um grande empresário e, sobretudo, um espírito livre e independente, a quem Portugal (e a Polónia) muito fi ca(m) a dever. Em 2014, o Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica atribuiu-lhe o Prémio Fé e Liberdade. Vale a pena recordar a homenagem que então lhe foi prestada por Manuel Braga da Cruz.

O Instituto de Estudos Políticos decidiu atribuir em 2014 o prémio Fé e Liberdade a uma grande figura de empresário português, que traduziu na sua vida os valores da liberdade económica assumida com responsabilida

Alexandre Soares dos Santos construiu, com o seu esforço, um dos maiores grupos económicos portugueses, hoje amplamente internacionalizado. A sua vida é, ela própria, um elogio à liberdade económica, à capacidade empreendedora, à realização de grandes projectos de desenvolvimento económico, à internacionalização empresarial num mundo globalizado, que nunca desvinculou da solidariedade e da responsabilidade social.

Na base desta sua impressionante actividade está uma grande fé na capacidade empreendedora do homem, criado por Deus, e ancorada na consciência de que essa capacidade de iniciativa se deve desenvolver, não apenas em proveito próprio, mas também do bem comum.

Não se deu por satisfeito com os êxitos, nem desistiu perante as dificuldades e contrariedades. Encarou os sucessos como acréscimos de responsabilidade para ir mais longe e mais alto, e os insucessos como oportunidades de repensamento crítico e de relançamento da sua actividade. Nunca desanimou perante a adversidade. Recomeçou, relançou, retomando o caminho, sempre que recuava.

Num momento em que o país vive uma dramática crise de emprego, entendeu o Instituto de Estudos Políticos apontar como exemplo quem, ao longo da vida, criou dezenas e dezenas de milhares de empregos, e quem se preocupou com as condições profissionais dos seus empregados. Apostou continuadamente na sua formação e qualificação. A Universidade Católica, com quem estabeleceu tantas parcerias de formação avançada, é testemunha desta preocupação de qualificação dos seus quadros, há tantos anos desenvolvida.

Quem teve a oportunidade de acompanhar as suas actividades de gestor, conhece-lhe a preocupação pelas condições de vida dos seus trabalhadores, pela sua situação material e moral. Ao longo da presente crise, poderia ter aumentado os seus resultados, racionalizando o seu grupo económico o que implicava proceder a despedimentos. Não o quis fazer, pelas implicações sociais dessa estratégia. Preferiu crescer, expandir, sem sacrificar a condição social dos seus colaboradores. E não hesitou em criar um Fundo de Emergência Social, que dotou com alguns milhões de euros, para suprir as necessidades dos seus colaboradores, suscitadas pela presente crise, desde dificuldades de solvência de dívidas a carências derivadas de problemas familiares e pessoais.

Alexandre Soares dos Santos é ele próprio um homem livre, que fala desassombradamente, sem dependências nem receios, mas que não quis ser livre sozinho, mas sim com os demais. Consciente de que, em pleno sociedade do conhecimento, é precisamente pelo acréscimo e difusão do conhecimento que um povo se torna mais livre, tal como há dois séculos era pela propriedade que a liberdade se difundia, criou uma Fundação destinada a proporcionar a todos os portugueses um maior conhecimento da realidade social em que estão inseridos, para os tornar mais livres e responsáveis.

A Fundação Francisco Manuel dos Santos coroa, na sua vida, uma preocupação antiga e permanente de ser útil aos outros. Desta forma, Alexandre Soares dos Santos exemplificou, de forma notável, a consciência que tem da responsabilidade social do empresário, traduziu na sua própria vida a recomendação da doutrina social da Igreja de que a propriedade privada está subordinada ao destino universal dos bens.

Alexandre Soares dos Santos Alexandre Soares dos Santos é um homem que entende a liberdade como um valor público e não meramente individual. Não restringe a liberdade á simples iniciativa económica, porque sabe que ela pressupõe um clima mais vasto de liberdade na sociedade. Por isso se preocupa com os problemas de Portugal, se envolve em iniciativas associativas, ou em esforços para aconselhar os decisores políticos do país. Por isso aceita com frequência expor e debater as suas ideias, defendê-las em público. Intervém nos meios de comunicação social muito assiduamente, que o procuram porque sabem que, não sendo um homem dependente, fala sem constrangimentos e com coragem, promovendo o que entende em consciência ser o bem comum para o seu país e para os portugueses. Não hesita mesmo em chamar a atenção, provocando a letargia das consciências, para o excesso do peso do Estado na sociedade e na economia, denunciando a demasiada carga fiscal, inibidora do investimento privado, atacando o desperdício irracional da despesa pública, e criticando a excessiva dependência do Estado da grande maioria dos cidadãos, que tolhe a iniciativa e a inventiva criadoras.

O seu entendimento da liberdade e a sua batalha pela liberdade não se confinam ao espaço meramente nacional, mas alarga-se a um horizonte internacional. As suas actividades empresariais estenderam-se á Europa de leste e à América Latina, para países em vias de desenvolvimento, fortemente carenciados, nos seus passados mais recentes, de liberdade económica mas também política. A sua preocupação pela liberdade é de âmbito transnacional.

O domínio da actividade económica em que intervém maioritariamente, a distribuição, é ele próprio fomentador da liberdade de escolha dos consumidores. Também por esse lado, Alexandre Soares dos Santos é um difusor de liberdade, um diversificador de escolhas. Não admira pois que seja, também ele, um defensor da liberdade de escolha noutros domínios, como na educação, à qual tem vindo a dedicar cada vez maior atenção nos últimos tempos. Pertenceu ao Conselho Superior da Universidade Católica, onde aceitou dar um valioso contributo, apontando para maior exigência de organização e de administração. Presidiu posteriormente ao Conselho Geral da Universidade de Aveiro, fazendo suas as preocupações de um ensino superior mais responsável socialmente, mais articulado com o mundo empresarial, mais atento às necessidades do mercado de trabalho, não apenas nacional mas também internacional.

É este homem livre e promotor da liberdade, solidário e socialmente responsável, animado por uma fé forte nas capacidades criadoras que Deus deu a todos os homens, que o Instituto de Estudos Políticos quer este ano distinguir, apontando o seu exemplo às novas gerações. Fá-lo convictamente, cioso de uma escolha acertada, mas ao mesmo tempo com um profundo sentimento de gratidão, porque Alexandre Soares dos Santos é, desde os primórdios, um amigo e um colaborador do IEP e das suas actividades, nomeadamente deste Estoril Political Forum, que todos os anos apoia mecenaticamente, porque entende que este é um espaço fomentador da liberdade e da responsabilidade entre as gerações.

Não ficaria completa esta justificação da escolha do Instituto de Estudos Políticos, sem uma referência a uma faceta decisiva do nosso laureado. Alexandre Soares dos Santos é um homem de família, que reconheceu a importância na sua vida da tradição familiar onde se insere – veja-se o nome que quis dar à Fundação que criou – que educou os seus filhos e netos neste mesmo espírito de tradição familiar, que os preparou para assegurarem a continuidade do património e dos valores que presidiram ao seu crescimento. A sua vida é a demonstração cabal de que a família, longe de ser um entrave ao desenvolvimento da iniciativa empresarial, é pelo contrário um decisivo motor da empresarialidade e um factor de responsabilização social, porque é na família que nasce e cresce a atenção aos outros e a solidariedade social.

Por tudo isto, Senhoras e Senhores, peço para Alexandre Soares dos Santos, que tenho a honra de apresentar, a entrega do Prémio Fé e Liberdade deste ano de 2014.

Estoril, 24 de Junho de 2014


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