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Uma personalidade marcante - Cónego João Seabra

Uma personalidade marcante - Cónego João Seabra

Foi e continua a ser determinante no percurso de muitas vocações sacerdotais, como também religiosas e laicais.

António Maria Pinheiro Torres e José Maria Seabra Duque
Não sou dono da verdade, mas sou possuído por ela
Lucerna, 2018

 

Uma personalidade marcante - Cónego João Seabra

 

Foi e continua a ser determinante no percurso de muitas vocações sacerdotais, como também religiosas e laicais.

António Maria Pinheiro Torres e José Maria Seabra Duque
Não sou dono da verdade, mas sou possuído por ela
Lucerna, 2018

D. Manuel Clemente D. Manuel Clemente

Cardeal-Patriarca de Lisboa; Magno Chancelerda Universidade Católica Portuguesa

Uma personalidade marcante. É assim que caraterizo o có-nego João Seabra, desde que o conheci em 1973.

Entrámos no semi-nário na mesma altura, vindo ele de Direito e eu de Letras, quando eram muito poucos os seminaristas e, também por isso, os que estavam eram mais próximos. No ano se-guinte foi a revolução de abril, com tudo o que ela trouxe de novo e desafiante para a sociedade e também para a Igreja.

Contávamos felizmente com o ainda jovem reitor, Padre José Policarpo, que unia inteligência e serenidade para nos guiar em casa e na Faculdade de Teologia, bom leitor que era dos «sinais dos tempos». Cada um de nós sentia e reagia a seu modo e lembro--me de quando ele nos convidou – ao João e a mim – para o acompanharmos numa viagem, sabendo que tinha conversa garan-tida e animada pela estrada fora, falando-se do que fosse. Já aí o João marcava sempre.

E assim era em geral. Recordo-me de algumas assembleias de clérigos e leigos onde se debatiam as questões sociais e eclesiais, por vezes com bastante animação. Também na Faculdade de Teologia em «assembleia geral» consequente ao 25 de Abril. Em tudo o João a marcar, não tardando a intervir ou reagir, com argumentação oportuna. Também nas aulas os professores tinham de ter cuidado com ele...

O seu modo ao mesmo tempo convicto e desempoeirado de estar como padre fosse onde fosse e com quem fosse; a sua sensibilidade e piedade; a disponibilidade para acolher ou procurar os colegas, convivendo, escutando e aconselhando – tudo isto nos marcou, marca e estimula

Até 78, o ano da sua ordenação sacer-dotal, o Seminário dos Olivais foi muito marcado pela sua presença. Era um lisboeta, «vocação tardia» provinda dum meio social elevado e culto, com alguma experiência de intervenção política, tudo conjugado numa personalidade muito dotada de inteligência e humor, que até o fado cantava e ao modo castiço. Aliás, trouxera-o ao seminário uma decisão forte, convicta e apostólica, como sempre sobressaía em qualquer ocasião. Por tudo isto, foi providencial a sua pre-sença naquela casa numa altura de certa perplexidade entre o que acabava e o que despontava na sociedade e na Igreja.

Assim continuou a ser depois na Uni-versidade Católica, como capelão. Podemos dizer que «enchia a casa» com a sua presença bem visível e audível em todos os espaços, dos corredores às salas, da capela à rua. Com professores, alunos e funcionários, conhecendo-os pelo nome, indo ao encon-tro deles sem esperar que o procurassem, interpelando francamente sobre a vida e a prática cristã.

São muitos, muitíssimos, os que andaram na Universidade Católica do seu tempo de capelão e docente a testemunhar como foi marcante nas suas vidas o encontro com o Padre João Seabra. Trouxe-lhes no seu modo franco e forte o realismo cristão, doutrinal e concreto.

Uma personalidade marcante - Cónego João SeabraCreio ter sido este mesmo realismo que o levou a aderir ao movimento Comunhão e Libertação e a ser um dos seus iniciadores em Portugal. Monsenhor Giussani fundara--o em Itália exatamente para manifestar a realidade do facto cristão face às ideologias e ao relativismo. Face às ideologias, que sonegam à realidade a possibilidade de nos surpreender, porque a condicionam mentalmente a priori. Face ao relativismo, que nunca se dispõe a levar a realidade a sério. Bem pelo contrário, evidenciando a capacidade de Cristo para responder à necessidade mais sentida e ao anseio mais profundo do coração humano, o realismo cristão torna-se absolutamente factual e convincente.

Torna-se também critério para avaliar a bondade ou a maldade das coisas. Marca cristãmente os juízos e não perde o rumo. Por isso também, sempre a seu modo, João Seabra não hesitou em ir «direto ao assunto» nas homilias e intervenções de qualquer circunstância a que fosse chamado ou a que nem esperava que o chamassem. Aqui a sua marca extravasou do âmbito eclesial e académico para se tornar amplamente so-ciopolítica e cultural. Em todas as questões, especialmente as «fraturantes», aí esteve e interveio e não deixou ninguém indiferente, concordante ou discordante. Só a doença o foi limitando, mas a memória do que disse e a publicação do que escreveu e escreve está aí, marcante sempre.

Uma última consideração, que me toca mais especialmente a mim e ao presbitério de Lisboa e de além-Lisboa, refere-se à marca sacerdotal que nos imprimiu. O seu modo ao mesmo tempo convicto e desempoeirado de estar como padre fosse onde fosse e com quem fosse; a sua sensibilidade e piedade; a disponibilidade para acolher ou procurar os colegas, convivendo, escutando e aconselhando – tudo isto nos marcou, marca e estimula.

Foi e continua a ser determinante no percurso de muitas vocações sacerdotais, como também religiosas e laicais.

Muito obrigado por tudo, caríssimo irmão e amigo!

«in Não sou dono da verdade, mas sou possuído por ela, coordenação de António Maria Pinheiro Torres e José Maria Seabra Duque, Lucerna, 2018»


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