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Obituário - Umberto Eco - O fascínio da sabedoria

Umberto Eco é um caso muito especial do académico que foi capaz de ultrapassar as fronteiras do claustro universitário. Era um apaixonado da humanidade em todas as suas manifestações e como tal ficará como um dos símbolos do nosso tempo.

Acompanhei-o com Fernando Gil e João Carlos Espada, quando veio a Portugal a convite de Mário Soares, no ciclo «Balanço do Século». E recordo que foi com Antonio Tabucchi, saudoso amigo e grande nome da cultura europeia, que nos conhecemos. Eco era uma personalidade fascinante. Sendo medievalista e semiólogo foi o que alguns designaram como «humanista total». Quando lemos a sua obra multifacetada apercebemo-nos da rara qualidade de se interessar por tudo o que fosse humano – mercê da consciência aguda que tinha dos limites e dos territórios. «O Nome da Rosa» é um dos grandes romances europeus e constitui uma verdadeira parábola sobre a modernidade em diálogo com um tempo ainda muito desconhecido que é a Idade Média. O escritor deixara-se fascinar pelo longo período medieval – compreendendo a sua grande extensão, a diversidade de elementos que conteve e o facto de ser um período de transição. E o que é a História senão sempre uma sucessão de elementos transitórios? Acontece, porém, que no caso da Idade Média europeia podemos encontrar a herança clássica, a emergência de novos povos e influências, o diálogo mediterrânico e o fundo judaico-cristão. Tratou-se de um tempo longo de grande curiosidade e de diálogo entre culturas e civilizações… Um jornal italiano falou do homem que tudo sabia. Até ao fim da vida, foi alguém com uma inesgotável capacidade de atenção e criatividade. «Apocalípticos e Integrados», «Obra Aberta» e «O Pêndulo de Foucault» são referências importantes, em que somos chamados a ir sempre mais além no conhecimento e na compreensão da incerteza e da complexidade. No fundo, a grande lição de Umberto Eco é a da necessidade de assumirmos um novo humanismo, capaz de ligar letras e ciências, educação e artes – a partir da ambição de um saber amplo, aberto e integrado.


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